sábado, outubro 04, 2008

Sobre Hilton's e o fim da liga da justiça

Aviso aos navegantes: esse texto só poderá ser completamente compreendido por soteropolitanos (mas você não precisa deixar de ler por isso). Venho falar aos senhores sobre as eleições municipais na cidade de São Salvador da Bahia.

Eu não sou, em nenhum sentido, uma pessoa otimista. Mas tenho visto coisas boas nesse processo eleitoral. Depois de anos e anos de eleições muito parecidas, as atuais trouxeram algumas novidades interessantes.

Não, eu não estou falando da musiquinha insuportavelmente pegajosa de Hiiilton 50. Muito menos da briga de foice para definir quem tem de fato o supervalorizado apoio de lula. Os candidatos-humoristas do programa dos vereadores são ainda mais costumeiros. O que me intriga e me anima nessa primeira eleição após a morte do "coronel" ACM é coisa mais profunda.

Trocando em miúdos, falo do desmanche da "liga da justiça" que perdurou por tanto tempo na Bahia. Todos contra ACM, mesmo que essa união de partes não tão homogêneas levasse a estratégias políticas vacilantes e consequentes atuações conturbadas da oposição. A "liga" conseguia reunir a esquerda mais radical a partidários do PSDB, a direita camuflada de social-democrata, em tempos onde o disfarce psdebista era bem fajuto. Quando ganhou eleições, fez governos conturbados, pouco produtivos e facilmente manipulados pelo grupo carlista, que sempre conseguiu retornar ao poder de forma triunfal. O próprio declínio carlista demorou a ser absorvido pela "liga". A ultima eleição para prefeito foi um bom exemplo, já que o governo de João Henrique reuniu praticamente todos os partidos que não estavam na coligação do 25. O resultado foi essa bagunça na cidade do metrô-voador.

Voltando ao foco, o que se pode notar de relativamente novo é a transformação da antiga "liga da justiça" nem degradê muito bem delineado de posicionamentos políticos desde a centro-direita até a esquerda, que no entanto apenas tangencia o extremo. O fim do inimigo comum, encarnado na figura do senador cabeça branca, trouxe ao cenário político baiano uma pluralidade política que oferece ao eleitor mais de duas alternativas e projetos para a cidade - entre elas os oriundos da sobrevivência do carlismo pós-carlista.

Isso não quer dizer que os grupos formados ao redor de grandes lideranças tradicionais tenham deixado de existir. Os grupos de Geddel, Paulo Souto e do próprio Neto não permitem dar essa tão agradável notícia. O avanço democrático não parece estar no fim desses grupos (como se isso fosse possível!), e sim na desmistificação da disputa política, na passagem de um processo eleitoral visto como a luta do bem contra o mal - pelos dois lados - a um embate entre concepções e projetos diferenciados para a cidade e o estado. Creio que essa eleição atual já nos oferece diferenças pontuais entre os projetos dos candidatos que de fato tinham um. A "liga da justiça" se vê agora decomposta em frações menores, todas adversárias na disputa por posições políticas de destaque.
Vejamos como será o primeiro segundo turno (ó, ó... o gesto dos dedos balançando pra deixar claro que fiz um trocadilho) sem a presença do "mal" DEMoníaco depois de tantos anos. Aposto que será, no mínimo, divertido.

Não se estressem com Leocret, meus caros. Estamos, enfim, avançando.