terça-feira, novembro 11, 2008

Bond e o (auto)elogio

Só uma coisa me deixa mais chateado que um domingo a noite: o autoelogio, essa praga da sociedade competitiva capitalista. É fácil supor que, se você é realmente muito bom em alguma coisa, não vai precisar sair dizendo que o é para conseguir reconhecimento das pessoas que o cercam. Na teoria, todo mundo sabe disso, mas na prática...
Tudo bem, ter autoconfiança e orgulho próprio é importante; também é importante saber reconhecer suas qualidades, vá lá, todo psicólogo diz isso e reconheço que deve realmente ter alguma influência positiva nas nossas vidas, isso de pensar positivo a respeito de nós mesmos. O problema é quando isso sai da esfera do pensar e chega ao nível do abrir a boca, em meio a uma conversa sobre um tema qualquer e dizer: "pô, nisso ai eu sou muito bom, não há quem supere", ou algo que o valha.
O autoelogio é, via de regra, constrangedor. Para quem ouve, lógico. Porque quem o faz tem a certeza de estar fazendo (e falando) algo de positivo pra si mesmo e pra quem o ouve ( não me pergunte em que argumento estes se baseiam). Imagine as duas situações: de fato a pessoa é muito boa naquilo; ou não, nem de longe, ela é aquela coca-cola toda. Em ambos os casos, a resposta do interlocutor será sempre, sem excessões, um sorriso amarelo, que tem entretanto causas diferentes: se ele de fato é bom, o melhor de todos, é complicado pra qualquer pessoa que tem o mínimo de estima por si mesma admitir que há alguém que é muito melhor do que ela, no que quer que seja; Se ele é péssimo, não é assim tão bonito, nem sabe cozinhar tão bem, um certo nível de intimidade é um requisito para que a resposta vire um deboche, e se essa relação próxima não existe, é batata, sorriso amarelo acompanhado de uma mudança de assunto providencial.
Sabe, eu acho que deveria haver uma lei permitindo o autoelogio apenas para sujeitos que fossem o James Bond, ou o Chuck Norris, mas eu prefiro o Bond. Sempre fui fã de Bond, o que me parecia uma contradição, já que filmes de tiro nunca me fizeram pagar 4,50 numa sessão de cinema. Agora percebo que sou fã de Bond porque ele é a única personagem que conheço que tem legitimidade para usar o autoelogio. Vejamos. Bond ouve de uma certa Bondgirl: "Sabe, ainda que acabassem com você e te deixassem apenas a cabeça e um dedo, serias mais homem que todos que conheci." Ao que Bond responde, espetacularmente, "é porque você sabe o que eu sou capaz de fazer com meu dedinho". Ela retruca: "mas eu não sei do que seu dedinho é capaz", e ele, genial, "mas está doidinha pra saber".
É isso crianças. Se vocês não reúnem as três condições de James bond, a saber:
1. Ser foda;
2. Saber que o é, e falar disso abertamente para todos;
3. Parecer ainda mais foda ao falar a todos que é foda.
Resistam à tentação do autoelogio, e contribuam para uma sociedade com menos momentos constrangedores. Obrigado.
p.s.1: Não me perguntem como é possível saber se reúne essas condições. Eu não conheço ninguém que as tenha.
p.s.2: Em breve explicarei detalhadamente a crise econômica, apresentando a única saída viável para que o mundo retome o crescimento e o Brasil vire uma potência. Por enquanto, deixa eu continuar falando besteira, tá?

sábado, outubro 04, 2008

Sobre Hilton's e o fim da liga da justiça

Aviso aos navegantes: esse texto só poderá ser completamente compreendido por soteropolitanos (mas você não precisa deixar de ler por isso). Venho falar aos senhores sobre as eleições municipais na cidade de São Salvador da Bahia.

Eu não sou, em nenhum sentido, uma pessoa otimista. Mas tenho visto coisas boas nesse processo eleitoral. Depois de anos e anos de eleições muito parecidas, as atuais trouxeram algumas novidades interessantes.

Não, eu não estou falando da musiquinha insuportavelmente pegajosa de Hiiilton 50. Muito menos da briga de foice para definir quem tem de fato o supervalorizado apoio de lula. Os candidatos-humoristas do programa dos vereadores são ainda mais costumeiros. O que me intriga e me anima nessa primeira eleição após a morte do "coronel" ACM é coisa mais profunda.

Trocando em miúdos, falo do desmanche da "liga da justiça" que perdurou por tanto tempo na Bahia. Todos contra ACM, mesmo que essa união de partes não tão homogêneas levasse a estratégias políticas vacilantes e consequentes atuações conturbadas da oposição. A "liga" conseguia reunir a esquerda mais radical a partidários do PSDB, a direita camuflada de social-democrata, em tempos onde o disfarce psdebista era bem fajuto. Quando ganhou eleições, fez governos conturbados, pouco produtivos e facilmente manipulados pelo grupo carlista, que sempre conseguiu retornar ao poder de forma triunfal. O próprio declínio carlista demorou a ser absorvido pela "liga". A ultima eleição para prefeito foi um bom exemplo, já que o governo de João Henrique reuniu praticamente todos os partidos que não estavam na coligação do 25. O resultado foi essa bagunça na cidade do metrô-voador.

Voltando ao foco, o que se pode notar de relativamente novo é a transformação da antiga "liga da justiça" nem degradê muito bem delineado de posicionamentos políticos desde a centro-direita até a esquerda, que no entanto apenas tangencia o extremo. O fim do inimigo comum, encarnado na figura do senador cabeça branca, trouxe ao cenário político baiano uma pluralidade política que oferece ao eleitor mais de duas alternativas e projetos para a cidade - entre elas os oriundos da sobrevivência do carlismo pós-carlista.

Isso não quer dizer que os grupos formados ao redor de grandes lideranças tradicionais tenham deixado de existir. Os grupos de Geddel, Paulo Souto e do próprio Neto não permitem dar essa tão agradável notícia. O avanço democrático não parece estar no fim desses grupos (como se isso fosse possível!), e sim na desmistificação da disputa política, na passagem de um processo eleitoral visto como a luta do bem contra o mal - pelos dois lados - a um embate entre concepções e projetos diferenciados para a cidade e o estado. Creio que essa eleição atual já nos oferece diferenças pontuais entre os projetos dos candidatos que de fato tinham um. A "liga da justiça" se vê agora decomposta em frações menores, todas adversárias na disputa por posições políticas de destaque.
Vejamos como será o primeiro segundo turno (ó, ó... o gesto dos dedos balançando pra deixar claro que fiz um trocadilho) sem a presença do "mal" DEMoníaco depois de tantos anos. Aposto que será, no mínimo, divertido.

Não se estressem com Leocret, meus caros. Estamos, enfim, avançando.

quinta-feira, julho 10, 2008

Eu, a dengue e a razão da morte

Tá bom, eu confesso que prometi a mim mesmo - e a alguns amigos - que não começaria novamente um texto fazendo uma confissão íntima e boba. Mas ao começar a refletir sobre o assunto que me leva a escrever tal texto após quase 3 meses de ausência, não consegui deixar de pensar nisso: eu morro de medo de morrer de dengue. Imagine que você nasceu numa familia feliz. Seus pais lhe criaram com todo cuidado e atenção que podiam, você foi bem alimentado e educado, cresceu e se tornou um "jovem de futuro". E de repente você morre virando mais um número na estatística do Jornal Nacional. É mais do que trágico. É um fim ridículo. A morte deve ser pelo menos impactante, emblemática, inesquecível. Mais inexpressivo que morrer numa epidemia, só morrendo engasgado.

Quando fui obrigado a pensar na morte - por condições que me foram impostas ao longo desse ano - me senti impotente, como seria óbvio supor. Mais que isso: senti que estou (estamos, todos nós) perdendo tempo. Pra que correr tanto, estudar tanto, seguir com tanta fidelidade regras e convenções se um mosquito insginificante pode fazer com que todo esse conjunto de coisas que resumem a sua existência se transformem em mais um número na estatística da dengue, ou da febre amarela? O mais correto seria levar "la vida loca", sem rumo, sem lenço e sem documento.

O argumento se desmancha, se tranforma em frangalhos, e se reconstrói, quando se usa (por força das circunstâncias) o artifício de voltar a escrever um texto incompleto após alguns dias. Voltando agora a pensar no que escrevi acima, vejo a questão por outro ângulo: por que diabos as pessoas não levam "la vida loca" se sabem que vão morrer? Eu mesmo respondo: Porque se levarem (todas) a vida adoidada não terão a garantia de que essa mesma vida poderá durar o máximo de tempo possível. A garantia de que viveremos o máximo de tempo possível, desde que uma fatalidade como um mosquito ou um pedaço de pão não nos leve a óbito, é a fuga do caos. Vejam a conclusão magnífica que acaba de cair no meu colo: a vida social, burocrática e estável, só existe porque o homem morre.

Se Deus existe, sua invenção mais admirável foi a morte. Imaginem uma sociedade em que os homens sabem ou desconfiam que não vão morrer. Eles estudariam? Talvez, pra sustentar o orgulho. Eles produziriam? Talvez, para melhorar a qualidade do que se veste e se come. O detalhe está na condição do "talvez": isso significa que um quinhão assustador dos homens usaria a prerrogativa desse "talvez" pra não fazer coisa alguma, esperando que outros o fizessem. O mundo seria um grande brega. A vida seria mais ou menos confortável, mas seria até sempre.

Nós, sabedores que somos de nosso fim, resolvemos, em algum ponto da história, deixar de lado o potencial "não fazer", para perder grande parte do tempo que temos para curtir a vida adoidado construindo uma base sólida em que se possa apoiar a sobrevivência até o fim inevitável: buuum! surgiu a sociedade.

Perceber essa contradição é intrigante. Temos um comportamento aparentemente contraditório ao que deveríamos ter - correndo o tempo todo e na maior parte do tempo fazendo coisas que não nos dão a medida esperada de prazer - já que todos iremos parar a sete palmos do chão. No entanto, o que nos leva a agir assim é justamente essa certeza da morte. Deus foi o mais racional dos seres, desde o início.

Me lembrei de Hobbes: os homens se juntam por medo. Digo mais, Deus é hobbesiano, ou Hobbes entendeu Deus antes de todo mundo. Aproveito pra confessar que eu também sou hobessiano! Agora vamos todos voltar a realidade. Alimentem o Leviatã.

terça-feira, maio 13, 2008

João Qualquer

Seu nome era João. A mãe sempre lhe falou que a sua maior decepção seria ter um filho João Ninguém. A fim de não decepcionar sua querida progenitora, João dedicou grande parte de sua existência à meta de ser João Alguém. No mínimo, João Qualquer, que não fosse Ninguém.
João Qualquer era, contudo, um cara tranquilo. Nunca arrumava briga, pois não sabia lutar. Ofender, ele até sabia.. sabia tocar nas feridas, tirar as pessoas do sério. Mas sempre voltava atrás quando sentia que a disputa poderia cair em danos físicos ou morais acima dos que ele suportaria.
Qualquer estudou até onde foi necessário para arrumar um emprego mediano. Não, o esforço para ele era burrice quando transcendia o estritamente necessário. Coragem para ele também era burrice, em qualquer circunstância. Ser rico demandaria as duas coisas, portanto, como ele não era burro, não seria rico.
Não tinha amigo. No máximo, pessoas mais próximas das quais ele tirava vantagens de vez em quando. Era muito dificil fazer Qualquer de bobo. Ele, todavia, sabia ser carinhoso e solícito o bastante pra enganar a quem fosse útil.
Qualquer um dia se apaixonou de verdade. E ai ele resolveu casar. Durou 3 anos. Quando ela quis ter um filho, Qualquer achou que já seria responsabilidade demais. Entre ter um filho e descasar, descasou-se.
Qualquer mentia a idade. Ele achava que dizer ser mais novo valorizava um pouco sua posição mediana.
De vez em quando, Qualquer bebia. Quando bebia, ele gostava de se sentir atraente. Qualquer gastava 35% de seu salário com prostitutas. As vezes ele não consumava o ato: pedia apenas para a referida profissional do sexo o assediar, para que ele pudesse recusá-la.
Qualquer não era feliz. Mas ele não se importava, pois sabia que quem é feliz quase sempre só o percebe depois que a felicidade se esvai.
Qualquer morreu de tédio. Ou de câncer. Ninguém quis ter certeza...

sábado, março 15, 2008

Eu, proletário

"Impressionante, como é que eu posso não saber assobiar? Eu faço tudo corretamente. Coloco a língua em "U", sopro com força e... nada. Um ruidozinho ridículo. Eu ainda vou ter sérios problemas com isso, pois as vezes só se consegue chamar alguém com um assobio. Enfim..."

Esse tipo de pensamento é o que toma a mente de quem fica viajando quase duas horas de casa pro trabalho. Sim, meus caros, eu me proletariarizei (essa palavra existe?). Agora eu faço parte de um quadro de funcionários, com o cargo de Estagiário, ou seja, quase-humano. Mas isso não está em questão. O que importa é que eu levo quase duas horas no sistema de transporte das empresas do CIA, diariamente. Fico impressionado como é difícil pensar em algo mais profundo do que minha incapacidade de assobiar, durante esse tempo.

O que me leva a escrever este texto é um pensamento que me tomou justamente na hora em que eu refletia sobre a metafisica do assobio: o comportamento dos funcionários do CIA é um fenômeno sociológico dos mais ricos. E eu vou explicar porque nas linhas seguintes.

Sabe, uma coisa que eu não admito é o preconceito alimentado dentro dos cursos de humanas mais "intelectualizados" em relação ao curso e aos alunos de Administração. Eles não distorcem fatos nem criam um "céu de brigadeiro" por lá. Nada disso. O que se ensina por lá é exatamente o mesmo que vemos em ciências sociais e história: o mercado de trabalho é extremamente competitivo, exige um profissional flexível, dinâmico, disposto a deixar de lado certos direitos trabalhistas para manter suas chances de crescimento dentro da empresa. Um profissional que precisa ser empreendedor, e saber trabalhar em equipe, de um lado, e guardar certa dose de técnica, do outro. Aquele trabalhador que passava 25 anos numa mesma empresa está morto e enterrado, etc, etc, etc. A grande diferença é que eles acham isso uma maravilha, a melhor coisa que se pode descobrir no mundo pós-moderno e tratam de entrar no clima, enquanto os intelectuais "de verdade" vão se lamentar nas mesas de bar.
Essa breve introdução acima serve apenas para ser negada. Sim, o objetivo desse texto é compartilhar com você, leitor, a minha descoberta de que o proletariado descrito por Marx existe e, indo além, numa condição incrivelmente parecida com a de 120 anos atrás. Nada, nada daquilo que se diz sobre as novas exigências do mercado, o novo perfil profissional, ou, sendo mais são lazarino, a hegemonia do capital financeiro, pode ser vislumbrado quando se observa a fila de trabalhadores esperando a condução para ir pra casa, no sistema de transporte do CIA. São operários. Todo iguais, sacolinha na mão, bocejos prolongados. São todos proletários...
Não sei acontece com você também, caro leitor, mas quando eu ouço a palavra "proletário" sempre me vem à mente a imagem de uma fila de operários esperando o pagamento diário, na porta de uma fábrica qualquer do inicio do século passado, com aquelas roupas de novela de época, tudo isso acompanhado da constatação de que aquilo é uma imagem "de museu"... Tirando os aspectos visuais da fábrica e das roupas antigas, posso dizer que vi e continuo vendo a mesma cena todos os dias, por lá.
Quando se leva um susto desses, logo vêem à mente as explicações possíveis. As duas que encontrei são as mais óbvias: ou era tudo mentira, a coisa continua muito escrota como sempre foi, o capital "violentando" (prática politicamente correta, suprimir o termo "fudendo" para não parecer escroto demais, apesar de considerá-lo mais apropriado) a todos, e uma máscara ideológica nas leis de mercado nos faz pensar que a coisa está mudando; ou, de fato, aquilo ali é uma sobrevivência, algo que resistiu e resiste aos fortes impulsos de mudança vindos dos grandes centros de desenvolvimento capitalista.
Não sei no que acreditar. O ônibus balança muito, de forma que é mais confortável tentar dormir pensando em como vou fazer para aprender a assobiar. Assim fica mais fácil ser um proletário feliz. Se vocês quiserem me ajudar a entender o fenômeno, por favor, a caixa de comentários está logo aqui, abaixo, e é livre.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Choros e Lamentos...

Eu considero que as pessoas se dividem em três grupos quanto as lamentações e frustrações. Existem aquelas que guardam tudo pra si e sofrem caladas; aquelas que gritam e choram e desabafam até com o porteiro do prédio; e aquelas que escrevem. Eu tenho uma forte tendência a gostar de forma absurdamente mais intensa do último grupo. Não que eu me considere integrante dele. Me vejo como uma forma híbrida (e bizarra), que flutua entre os três tipos ideais. Mas é porque as lamentações, quando escritas de forma sincera, se eternizam e ficam até bonitas, dependendo da boa vontade de quem lê.
Quando alguém se lamenta de você, de suas atitudes e posições, normalmente o que se sente não é bom. Ao ler o relato que lhes mostrarei a seguir, me senti ao mesmo tempo impotente e incompreendido. Mas após passarem vários meses, vejo que ele retrata de forma absolutamente fiel minha personalidade... Isso não é bonito? Vejam:
"Em algum momento, em vários deles ou definitivamente, as pessoas sempre vão embora. Talvez essa seja a pior coisa do mundo. Da primeira vez ele foi embora porque estava bêbado demais, foi embora a segunda porque ficou tarde, foi embora na terceira porque teve medo de ficar pra sempre, foi embora pra sempre porque todo o resto do mundo precisava dele e eu era apenas uma das demandas, mas pra sempre pode durar duas horas, dois anos, duas encarnações. A gente sempre se despede sem despedidas, fica Chico no ar "o amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio". Acho que ele sempre ia embora à espera de que existisse algo melhor do q eu, mas não ia definitivamente, porque não é todo dia que aparece alguém melhor do que eu. Um dia apareceu, ela até que é bonita e tal, não parece tão confusa e intensa e talvez seja tudo que alguém precise para ser feliz. Eu só queria que ele se perdesse um pouco, rasgasse a agenda, lançasse o celular no mar, desligasse todos os toques, luzes e sinais de que há todo o resto. Esquecesse do sono, do livro, da planta, das lembranças. Só queria que ele descansasse um pouco de ser ele o tempo todo, sempre com a mesma cara de tédio e de busca pelo resto que não se repete ou não se prolonga. Mas ele sempre vai embora antes da gente ser alguma coisa juntos. Todo mundo chega à sua vida. Em algum momento, em vários deles ou definitivamente, as pessoas sempre chegam. Talvez essa seja a melhor coisa do mundo."
Talvez não faça nenhum sentido eu publicar isso. Talvez eu esteja fazendo apenas por que quero atualizar o blog e não encontro inspiração. E talvez eu esteja colocando isso aqui porque considero uma questão inquietante e causadora de insônia o fato dos casos de amor não se encaixarem como deveriam, nesse nosso mundo frenético. É interessante perceber como é possivel construir toda uma sequência lógica e coerente de argumentos sobre seu comportamento, ainda que esta não tenha nenhuma relação com a impressão que você tinha a intenção de transmitir quando agia de tal ou qual forma. Fica aqui, eternizada, essa lamentação. Tanto a dela, quanto a minha.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Eu e Ela

Ela: E ai, como vai o blog?
Eu: Parado. O mundo tá girando muito rápido. As idéias vêm, mas antes que eu possa sentar e escrever vem outra idéia, e esqueço da anterior...
Ela: Seu blog até que é legal. Você só não sabe escrever bem sobre casos de amor.
Eu: Deve ser porque eu não sei amar...
Ela: É. Só pode ser porque você não sabe amar. (risos)
Eu: É engraçado como muita informação vira informação nenhuma. Estamos sempre perdendo cada vez mais detalhes das coisas...Sempre nos sobra só uma parte.
Ela: Nossa, que elaborado. Com certeza essa idéia não é sua. Onde você viu?
Eu: Eu li no livro de Friedman que vc me indicou. Você deveria saber que estou falando dele, "O mundo é Plano".
Ela: Eu indiquei mas não li. Só vi uma resenha a respeito. Quem disse que eu tenho q ja ter lido os livros que indico?
Eu: É racional supor que sim...
Ela: Odeio a racionalidade, principalmente quando ela se volta contra minhas práticas cotidianas...(risos) Mas eu sei que o livro diz que os indianos vão dominar o mundo. Eles fazem qualquer coisa. Você deveria terceirizar seu blog, e entregá-lo a um contador lá na Índia...Você tem a idéia e ele escreve. Se livre do trabalho duro e repetitivo e fique com a criatividade da coisa. O que acha?
Eu: Você já teve idéias melhores...
Ela: Posso ser sincera? Eu não gosto de Radiohead. Pára de ficar me mandando ouvir musicas deles.
Eu: Uma pessoa que não gosta de Radiohead tem sérios problemas. Você já fez análise?
Ela: Minha mãe faz análises nas pessoas. Não sei se devo confiar em analistas, tendo esse exemplo como base.
Eu: se você lesse meu blog, saberia que eu também não gosto de análise. Isso é mais um ponto em comum. Será que é você a tampa de minha panela?
Ela: Eu poderia ser, se você perdesse essa mania de querer fazer tudo certo. Se permita não ser correto algumas vezes, e a gente conversa.
Eu: Mas eu já estou fazendo isso. Olha eu aqui, conversando com você? (risos)
Ela: Você tem bom papo, só precisa melhorar nas cantadas.
Eu: E você deveria voltar logo. Uma mulher pode sonhar com mil aventuras, deve realizar umas cem e precisa casar antes dos 30. Você já está muito perto da idade de tirar a mochila das costas.
Ela: Isso também é racional? Desista, baby. Felicidade não é racional. O mundo mudou e as mulheres que choram após passarem dos 30 -porque não arrumaram maridos- são as que pararam no tempo. Ser feliz pode e deve não incluir marido e filhos. Meu conceito de felicidade não os inclui, por enquanto.
Eu: Eu também penso assim, mas a estatística prova que todas vocês mudam de opinião depois dos 30. São números...
Ela: Se você tivesse escolhido a antropologia, relativizaria mais esses números. É por isso que acho esse pessoal de Política meio perigoso...
Eu: Aff.. Lá vem você com essa conversa de relativização de novo... Vamos voltar a falar de amor?
Ela: Primeiro você precisa aprender a amar.
Eu: Me ensina?
Ela: Clichê. Seja mais criativo.
Eu: Desisto. Estamos conversando em ciclos.
Ela: Você e sua obcessão pela linearidade das coisas... Eu gosto muito mais da idéia de ciclos. A história, por exemplo. São ciclos, isso é muito claro.
Eu: Marx discorda. Você não é marxista?
Ela: Marx errou em muitas coisas. Mas eu não interpreto a idéia de história dele como linear.
Eu: Você leu só o manifesto comunista, é isso.
Ela: É surreal imaginar que estou as duas da manhã no telefone ouvindo um cientista social que trabalha em laboratório de química me explicar o conceito de história em Marx e criticar meu nível de leitura...
Eu: Tá, já saquei que isso foi um "boa noite, até logo". Então, boa noite, até logo!
Ela: Ser surreal não sinifica ser ruim... Fica mais um pouco?
Eu: Não dá baby. Vamos esperar o próximo ciclo, ok? Um beijo.
Ela: Tá, eu te espero no fim da reta da história. Um beijo.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Introdução ao "Primeiro Tratado Sobre o Mundo"

Eu estou disposto, desde o início de minhas parcas férias, a escrever algo neste blog. Fiquei ainda mais disposto ao saber que outros amigos estão se aventurando nesse brinquedo de blogar, e o estão fazendo de forma brilhante. Li um texto malemolente aqui... Um outro bastante ácido ali... E resolvi que eu tinha que escrever algo, pra me sentir vivo.
Nesse meio tempo, vivi pelo menos meia dúzia de coisas que, acontecidas na época em que eu levava este blog a sério, dariam pelo menos um texto cada uma. Eu li um livro bastante interessante, "O Mundo é Plano", de Thomas L. Friedman; Conheci pessoas e lugares (boates! rsrs) novos; me apaixonei perdidamente e desisti da paixão na manhã seguinte; e pra completar de forma trágica, o meu avô, o lendário Seu Arlindo, resolveu ir conhecer o céu. Só em citar os fatos, fico pensando em introduções e piadinhas discretas para cada um dos textos de cada um dos fatos. Mas eu resolvi economizar. Hoje eu decidi que vou escrever um texto só, abordando, além de tudo isso, o fim do ano, o novo ano, o natal, e o problema da fome no mundo. Basta agora decidir como fazê-lo.
Por isso, informo que preciso de mais um tempo. Nas próximas horas, sairá um "Tratado Sobre o Mundo", quentinho. Aguardem e perdoem a demora.