quinta-feira, março 26, 2009

Duas coisas

Escrevo porque fui incomodado. O texto anterior, apesar de não ser lá muito surpreendente para quem já teve oportunidade de dividir anseios com a autora (rs), me fez pensar numa série de coisas sobre minha própria vida, minhas metas e meus sonhos.
Não sei quantos de vocês concordam, mas eu tenho uma teoria: por mais que definamos os rumos a seguir, tracemos planos e implantemos em nossas vidas planejamentos estratégicos voltados para o fim de ter dois filhos lindos e uma casa na praia, o que define em que beco vamos parar é o bendito acaso. Sim, aquele fato isolado que acontece porque você deixou de planejar uma ínfima parte de seu dia, esse pequenino fato definirá as mudanças nos seus planos, que por sua vez o levarão a um novo momento casual que mudará sua vida.
Eu poderia citar inúmeros exemplos, mas como seriam de minha própria vida - e sendo ela levemente confusa - a teoria não estaria fundamentada. Vamos lá: quantos de vocês conheceram um grande amor numa festa que não queria ir? quantos foram parar num dado lugar por conta da insistência de um amigo e lá descobriram uma oportunidade que mudou sua vida? Quantos optaram pela sociologia (ou pela química orgânica) por terem assistido a uma aula, uma única aula, que deu sentido a todo o conjunto de informações que você ja assimilara durante a trajetória? Todas essas coisas aconteceram comigo e, alimentado pela curiosidade inquietante que incomoda quase todos aqueles que tiveram um contato mais ou menos demorado com as ciências sociais, procurei investigar as vidas alheias. Fiquei surpreso ao saber que meu chefe se tornou engenheiro porque cancelou uma viagem à europa na véspera do embarque, e que meu tio conheceu sua mulher por causa de um pneu furado... para ficar nos exemplos mais emblemáticos.
Isso me faz discordar de Fernanda. Não acho que a pretensão seja suficiente para vencer o poder do acaso. Por exemplo: eu não gosto dos livros de Paulo Coelho. Se o cara que leu o primeiro ensaio de Paulo Coelho e abriu caminho para o lançamento do seu primeiro livro pensasse como eu, nada disso teria acontecido, ele poderia encher o saco ou arrumar um emprego, ou ainda ser aprovado num vestibular para física e descobrir que os estudos sobre a relatividade eram sua verdadeira "vocação". É só para provocar um ponto, posso desenvolver melhor minha linha de raciocínio depois, mas agora quero falar de mais uma coisa.

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É incrível como a mediocridade tem vencido a genialidade nos tempos atuais. É certo que os gênios, quase sempre, têm sua genialidade reconhecida muito tempo depois de descerem os sete palmos de chão. Porém, como vivo neste tempo, e por isso temo sentir tudo incrivelmente mais absurdo nesse tempo, por ser o único em que viverei, defendo que a vitória da mediocridade têm sido ainda mais contundente.
Eu sou a favor da completa adoração dos gênios. Isto porque eu não sou um gênio, eu reconheço que não o sou, e por isso admito, com relutância, que só é possível levar a vida mais ou menos confortável que tenho hoje porque existiriam e continuam a nascer gênios, grupo do qual não faço parte, o que me leva a pensar que minha existência é um favor. Um favor concedido pelos gênios.
Por pensar assim, me irrita profundamente que pessoas mediocres sejam capazes de destruir a reputação e a obra de gênios. Fico furioso quando vejo, por exemplo, Caetano Velloso tendo de se defender de críticas de um fofoqueiro qualquer que escreve anonimamente numa coluna de jornal. Ou quando vaiam João Gilberto. Até mesmo quando condenam Ronaldo por ter dormido com três travestis.
Deixo aqui meu repúdio à repressão a genialidade. Uma sociedade onde se ridiculariza os gênios, tende ao fim. Existimos graças a benevolência dos gênios, seus infiéis!
p.s.: Texto originalmente escrito para matar o tempo de um domingo qualquer. Publicado no respectivo blog que aparece no link do texto.

terça-feira, março 24, 2009

Decifrando o mal do mundo

Há tempos atrás, eu disse que escreveria sobre como acabar com a fome do mundo. Pois é, acho que é chegado o momento - em meio a essa enorme crise - de socializar meu pensamento a respeito.


Começo com o âmago do argumento: o mal do mundo é o desperdício. Sim, eu sei, parece meio óbvio, assim de cara. Mas me permitam explicar melhor.

Num passeio despretencioso por nossa cidade (seja qual for ela), podemos perceber exemplos absurdos de desperdício. Mas a coisa que mais me impressionou, na minha última reflexão propiciada por uma longa viagem num coletivo, foi o desperdício de gente. É, seres humanos sendo desperdiçados!

Quantas reportagens foram feitas, nos ultimos 10 anos, acusando falta de agentes de fiscalização do IBAMA, CREA, Polícia Federal, entre tantos outros, para impedir e coibir diversos crimes como os ambientais ou o contrabando? Eu contei, desde que comecei a assistir televisão, foram exatamente 4.568 reportagens (quem duvidar, conteste com provas). Pois bem, considero que um individuo médio, relativamente ambicioso e apto para o trabalho, pode realizar essa atividade de fiscalização, concordam? Mas a gente perde toda essa mão de obra com atividades inúteis.

Na Estação Iguatemi, frenético ponto de embarque e desembarque de passageiros (ainda mais frenéticos) da cidade de Salvador, há um exemplo emblemático disto que vos falo. Profissionais (concursados!), que tem como principal função sinalizar para os ônibus que eles devem ir para frente. Diabos, será que algum motorista de ônibus não sabe que ele deve ir para o ponto livre mais adiante da plataforma de embarque, parar, esperar embarque e desembarque, e seguir em frente, o mais rápido possível? Será que o gesto, com a mão erguida no sentido de fora para dentro do corpo, com a palma da mão estendida, indicando pressa, faz alguma diferença no trabalho dos motoristas? Eu acredito firmemente que não.
Existem outros exemplos... Quem já viu a manchete: "segurança de banco age com rapidez e impede assalto de grandes proporções" ? Aposto que nenhum de vocês. Segurança de banco é um desperdício de gente. Na verdade a única atividade produtiva deles é irritar pessoas que têm pressa, ao travar aquela maldita porta giratória. Qualquer assaltante que se preze rende facilmente os seguranças dos bancos.
Há um exemplo de desperdício ainda mais notório: quem já viu alguma utilidade em comentarista de futebol? O cara chega lá, assim o jogo de graça e pior, recebe um salário razoável para dizer o óbvio: o time que ataca mais tá melhor, o que ataca menos tá próximo de tomar um gol. É muita inutilidade.
Poderia citar milhares de outros exemplos... mas prefiro deixar que vocês mesmos pensem neles. A solução para todos os problemas do mundo está em identificar todos os focos de disperdício, arrebatar essa gente, recrutar para as funções e certas e lhes colocar nessas vagas, abolindo de uma vez todas as funções inúteis da face da terra, como a do locutor de supermercado. Teriamos um mundo mais justo, funcionalmente mais dinâmico, mais rico, mais eficiente, e mais feliz. E quem duvidar da grandeza do meu argumento que tente me convencer.