quarta-feira, novembro 07, 2007

Entre o mercado e a crítica

Serei acusado de plágio. Mas a situação pede que eu o faça, da forma mais descarada possível. O título acima foi ouvido por este que vos escreve pela primeira vez na última quinta. Na segunda,ajudou-me a compreender o maior fenômeno sociológico do meu dia.
Todas as segundas e quartas tenho passado por um curso intensivo de doutrinação marxista rasteira. Nada mais natural que isso seja obrigatório, condição sine equa non para que eu consiga minha suada licenciatura, e possa garantir, pelo menos, o salario de fome de um professor. "marximo rasteiro" e "obrigatório" ficam bem juntos, não acham? Eu também.
Na sessão tortura desta segunda, fui surpeendido por uma bronca. Nossa professora-lider revolucionária, indignada, disse-nos em alto e bom som que éramos todos uns alienados por não estarmos por dentro do "protesto", não sermos contra o Reuni, não ocuparmos a reitoria e não estarmos dispostos a pegar em fuzis e mudar o mundo...
Muito previsível, posto que é comum que os líderes da "revolução" expliquem o posicionamento diferenciado - qualquer que seja ele - como alienação, simples assim.O que me incomodou a ponto de me fazer superar a preguiça numa segunda-feira, pegar caderno e caneta e começar a escrever esse texto durante o próprio fenômeno foi a reação minha e de meus colegas.
Nossa líder exaltava o movimento estudantil de sua época, a ditadura, Che, Zapata, Rita Lee, entre outros, e absolutamente ninguém se empolgava. Ela, oradora experiente, partiu pro ataque: constrangeu cada individuo a dizer porque diabos não estava "na luta". As respostas? absolutamente homogêneas, do tipo: "acho importante, mas não quero, não posso, não acredito no movimento estudantil organizado em prol da revolução". Claro que quase nenhuma foi assim tão elaborada. Resolvi sair do meu marasmo e explicar o que sentia à minha desiludida interlocutora: "er... assim...eu acho que o Reuni tem coisas boas e ruins... Mas os estudantes não aceitam mais que decidam por eles se as coisas são boas ou ruins, há uma mudança de concepção, e isso gera acomodação...". Fui interrompido. Absurdo, completo absurdo. Ela concordava. A sociedade individualista impedia as ações coletivas. Ah, que monstro esse capitalismo...
Eu sei que você, leitor, entendeu que o que eu quis dizer não foi nada disso. E digo até que ela também entendeu. Mas a "crítica", nesta forma míope, sobrevive por reproduzir seu discurso contra o mercado, e pelo apoio que este mesmo lhe dá, numa contradição interessante. Explico. Segundo a monografia de um amigo meu, os jovens de hoje estão entre o mercado e a "crítica". Talvez eu esteja sendo infiel à formulação original ao entender a "crítica" como as velhas formas de manifestação coletiva, apoiadas no paradigma das classes sociais, característica do século passado, entre elas o movimento estudantil. Como esta "crítica" não contempla mais esse universo de demandas múltiplas, os jovens se afundam no mercado, e deixam para heróis voluntariosos e, digamos, limitados intelectualmente, eternizarem os símbolos revolucionários e ocuparem reitorias. Assim o jovem se livra do peso de criticar, e os heróis podem criticar o mercado e o FMI sem serem indagados (e ouvidos).Como eu cheguei a essa conclusão? Explico, também.
Após notar que a professora transformara completamente a minha fala, eu me indignei. Quis mostrar que o mundo mudou; que os jovens de hoje não se sentem representados pelas organizações estudantis; que a política institucional tem sido objeto de piadas, e somente delas, para os jovens; que eles resiginificam seus interesses em outros meios e canais, dentre os bilhares que surgiram desde o tempo dela, enfim, eu tinha um mundo pra falar. Mas tinha um joguinho legal no meu celular, tão colorido, divertido, empolgante, que eu deixei ela falando lá e fui jogar. Sim, eu fiquei com o mercado. Mas não sou contra a crítica não. Sigam criticando que eu apoio daqui, da frente do meu PC...

quinta-feira, setembro 20, 2007

O louco, Foucault e os corpos dóceis

Ontem eu vi um louco. Pobre, miserável, completamente esfarrapado, sujo e ferido. Restavam-lhe poucos dentes. No entanto, ele sorria, vigorosamente. Sorria de forma tão absurda, que eu poderia afirmar que este era louco apenas porque sorria... Nesse momento, me perguntei se as outras pessoas no ponto de ônibus teriam a enorme capacidade de percepção e compreensão da realidade objetiva que eu, praticamente o filósofo idealizado pro Platão, tinha. Grande foi a surpresa quando vi um garoto, que passava de mãos dadas com a mãe, dizer: "olha mamãe, o maluco!". A lógica me levou a duas opções: ou toda a sociedade pós-moderna ocidental é formada de filósofos, ou qualquer individuo levemente socializado saca, de cara, quando alguém é "maluco". Mas, oh dúvida cruel, como isso é possível?
Os psicólogos e psiquiátras são os individuos autorizados, pelo contrato social, a definir quem é doido e, sobretudo, a explicar a loucura. Mas assim como não temos seis bilhões de filósofos, também não somos uma sociedade formada de psicólogos, o que me leva a crer que a fórmula para identificar um louco está nas convenções sociais, ou no seu cumprimento. Portanto, se você quer entender a loucura, estude Sociologia.
A lógica do raciocínio que me leva a tal afirmação é altamente questionável, mas isso não me importa aqui. Eu quero é falar de uma certa coisa e já se vai uma página inteira, então, serei mais objetivo.Foucault, teórico surpreendentemente novo pra mim, resolveu a questão há quase 50 anos, e eu só vim descobrir agora.
O comportamento desviante e o significado que lhe damos podem ser entendidos sob a perspectiva da docilização dos corpos, o que não significa, de maneira alguma, que estou me referindo aos corpos caramelados do sol de verão. Foucault descreve de maneira brilhante como as sociedades humanas (essencialmente a ocidental) passaram por um processo de disciplinarização dos individuos, pela imposição de um poder ( que não emana de um centro ou classe específica) sob os corpos e as almas. Primeiro, aos militares, para otimizar a guerra; depois, aos operários, para produzir melhor; e por último, aos estudantes, para "educa-los" melhor. Transformaram-se, assim, os corpos em entes dóceis, disciplinados, limitados por esse poder "microfísico", que restringe significativamente o campo de ações e comportamentos possíveis.
Nos dias de hoje, onde sentimos com a máxima intensidade as consequências da modernidade, vive-se o ápice da biologização do comportamento, ou o poder do saber sobre os corpos. Tudo que foge dos comportamentos indicados pela "ciência" cai na ridicularização. Seguimos os padrões: corte gorduras trans, não fume, não beba, dê vinte voltas no dique, e você será uma pessoa mais feliz... E o mais cruel disso tudo é que a vigilância é de cada individuo, no dia a dia. O poder microfísico tem em cada individuo um soldado. É aquele cara que te chama de burro, imbecil, porque você odeia salada...
O desviante é livre. Suporta o peso da ridicularização, mas não se adequa ao comportamento dócil. Os loucos, e portanto indóceis, são as únicas pessoas livres de nossa sociedade. deve ser por isso que eles riem de nossas caras...

sábado, setembro 08, 2007

O Extraordinário

Ele acordou. A cabeça rodava... ficara até as primeira horas da manhã lendo contos, e bebendo vinho. De um salto, levantou-se da cama segurando a jaqueta com a mão direita, e na esquerda o guarda-chuva. Tinha algo urgente a resolver, algo que não poderia esperar nem mais um segundo. Agora, depois de todo esse tempo pensando a respeito da natureza humana, só enxergava insetos andando pelas ruas. Não, ele não era como eles. Ele era maior, melhor. Ele era, de fato, extraordinário. E era isso que deveria provar imediatamente.
Dirigiu-se apressado até o supermercado. Uma chuva pesada, dura, castivaga seu pobre guarda-chuva como se quisesse avisá-lo do erro que cometeria. "Erros são coisas de insetos. Desses insetos!", ele pensava. Um idéia fixa lhe tomava toda a atenção. Não se pode humilhar seres extraodinários como aquele gerentezinho de supermercado havia feito anteontem. E ele demorara dois dias pra se decidir, talvez por ser mais piedoso do que deveriam ser os homens de sua classe. Mas agora, tudo estava tão claro quanto o céu em dia de sol. "Chego, mato ele e quem mais se meter e depois, a Glória! Ah, a Glória!" Dizia a si mesmo num tom de voz elevadíssimo, fato que ele não percebeu.
Chegou ao supermercado, e avistou de imediato o ser causador de sua fúria. Dirigiu-se a ele, em êxtase. Sustentava um sorriso maldoso nos lábios, quando esse o interpelou: "que queres novamente aqui? Não já lhe disse que da próxima vez chamaria a polícia?" Ele engoliu seco. Em seguida, após gaguejar por alguns segundos, respondeu: "eh, vim... Eu vim lhe pedir desculpas. Não deveria ter lhe dito tanto insultos, afinal, a culpa foi toda minha." O gerente lhe sorriu, como quem considera estar a frente de um completo imbecil. Em seguida, o celular desse tocou, fato ao qual respondeu dando as costas ao inimigo. Ele percebeu que este era o momento exato para seu feito histórico. Tirou do bolso a faca, levantou o braço o mais alto que pode e, no momento em que iria desferir o golpe, sentiu a cabeça rodar novamente e perdeu os sentidos, caindo instantâneamente ao chão.
Despertou na sala do gerente, sentado em uma cadeira muito desconfortável. Esse fitava-o sorridente, como quem acabara de ouvir uma piada muito boa. Ao notar seu despertar, iniciou: "Acha que conseguiria vingar-se desta forma? Está na cara que não tens estrutura para empreender o roubo que tentou anteontem... Imagina um assassinato? O que és, um lunático? hahaha!". Ele saiu correndo da sala do gerente. Ao chegar a rua, porém, acalmou o passo. Veio andando lentamente, em meio a chuva, rindo feito um louco. Ria por ter sustentado, por tanto tempo, a idéia de que era um ser extraordinário. Ria, como forma de punir a si mesmo, e ao mesmo tempo em que ria se dilacerava por dentro. Sentiu toda a força que lhe restava esvair-se. Sentou na calçada, à porta de casa. Mexeu com uma senhora acompanhada,propositalmente, e levou inúmeros socos e pontapés do marido ofendido. A dor física conferia maior intensidade a auto-punição. Ao notar que estava plenamente satisfeita a necessidade de punir-se, sentiu, então, um último prazer.
Entrou em sua casa e fechou a porta. Nunca mais se teve noticias dele.
p.s.: Qualquer traço de literatura russa, não é mera coincidência.

quinta-feira, maio 24, 2007

Sim e Não

Fechou os olhos como se buscasse o sonho recém-interrompido. Abriu-os novamente, verdes e vermelhos de rotina e labor.Olhou-me e não sorriu, mas bocejou de forma excepcionalmente receptiva. "Sim, são três letrinhas...", dizia a canção ao meu ouvido,no momento exato em que eu passei a acreditar no fato de que o Sim era muito mais que três letrinhas.O Sim era aqueles olhos verdes e vermelhos, envoltos nos cabelos rebeldes, negros em cor e origem. Era aquele não sorriso, iluminado pelo sol das sete. O sim é belo, e é meu por toda eternidade.
O Não vem com o barulho do telefone.E não mais que de repente esconde os verdes olhos com óculos escuros, cobre o corpo nú com um jeans surrado, levanta da cama a magia que fora e continuará sendo minha em eternas lembranças, e leva o Sim, o meu Sim, embora. O Não é seco, rápido, frio e racional. O Não é o real.

quarta-feira, maio 16, 2007

Dois pesos e duas medidas

Tenho uma teoria: A vida se torna mais pesada e dificil na medida em que mais se procura entendê-la, o que não deve ser nenhuma novidade para vocês. Mas aqui quero ressaltar o aspecto mais particular dessa minha teoria: quem vê o mundo sob o ponto de vista sociológico sofre muito mais que a maioria das pessoas.
É uma doença terrivel, essa de colocar uma lupa de aumento diante dos olhos e olhar para o mundo...E a causa é óbvia,pois é fácil concluir que quanto mais se aumenta um problema, mais grave ele lhe parece. Vejam por exemplo, o caso das moças que passam a ser feministas depois de conhecer o mundo de teorias pautadas na causa do feminismo. O aumento do campo intelectual é diretamente proporcional a drástica diminuição do campo de potenciais casos de amor. Isto porquê qualquer pedido, qualquer ato que denote algum sentimento de submissão(ainda que relativa) feminina, ou até mesmo uma demonstração de cavalheirísmo, se torna o mais absurdo dos atos contra o histórico do movimento feminista, da causa da libertação das mulheres em todas camadas e redutos históricos de poder masculino na sociedade capitalista. O cara se torna a última sobrevivência do machismo mundial. Deve ser condenado à forca e posterior esquartejamento e exposição das partes em praças públicas.
Antes que me apedrejem, não digo que os atos não sejam,comumente, machistas. Nem, muito menos, que a militância esteja equivocada. Não, nada disso. Meu foco aqui é outro: será que essa moça se satisfaz a cada relacionamento desfeito por conta de um ato machista? Não, de forma alguma. A vida pesa muito mais para ela, nesse sentido, do que para a outra que simplesmente dá um tapa no braço do amante e diz, entre sorrisos largos:"deixa de ser machista, pô!".
Para dar maior validade a essa teoria, trago um exemplo que é mais meu. Tem coisa mais chata do que perceber que as pessoas não gostam de ver tv com você? Sim, porquê você é aquele cara chato que vê problema até em comercial de sabonete. Não é tão mais simples sentar em frente a tv no domingo a noite e rir das video-cassetadas? É. Não é mais leve assistir ao jornal nacional e acreditar em tudo que lhe dizem lá? É, também. O mundo de hoje é um contraponto ao pensamento crítico. E é isso que faz com que nós ( incluo também aqui o leitor crítico, politizado e altamente qualificado desse blog) sintamos a vida tão mais pesada do que sentem as pessoas que nos cercam.
Baseado nesses fatos foi que, ontem, chutei o balde. Ao ver um video em que uma pobre senhora tenta repetir desgraçadamente a simples expressão www.youtube.com, eu me livrei da idéia de que aquilo é a representação do apreço que a nossa elite tem pelo nosso povo, do fato de que é naquele nível de miséria intelectual que a maioria dos brasileiros estão, de que o fato de ser uma mulher negra não seria de forma nenhuma irrelevante nesse caso, de que esse quadro estará sempre a anos-luz de mudança enquanto exemplos como esse forem apenas piadas, entre outras tantas reflexões sociológicas, políticas, antropológicas, filosóficas que poderiam perpassar minha compreensão do fenômeno, parar rir até perder o fôlego.Ora, é engraçado por ser, e ponto final. Assim, fica tudo mais fácil, a vida pesa menos, e somos todos mais felizes. Concorda? O pior é que eu também não...

sexta-feira, abril 20, 2007

Como é possivel ser impossível: mais uma triste história de amor

Era cedo. Ele se locomovia como quem não teme o perigo iminente, rumo ao ônibus completamente lotado. Aquelas manhãs de terça não costumavam variar a ponto de surpreendê-lo. Era sempre o sol fraquinho na direção dos olhos, o ônibus lotado cheirando a gente, os pisões no pé sem cerimônia, a felicidade de encontrar um lugar vago, ainda que fosse há apenas dois pontos do seu. Assim acontecia, umas vezes mais, outras menos, todas as terças.
Porém, naquela terça, algo havia mudado. Chovia. Torrencialmente, como há muito ele não via chover. Talvez por isso, o ônibus lhe parecia estranhamente vazio. Considerou-se ridículo por sentir uma espécie de falta do resto da gente que pisava em seus pés todas as terças. E era nisso que ele pensava, entre bocejos demorados, na sua confortável posição em frente ao cobrador, encostado na roleta, quando ela surgiu. Surgir... Esse tem de ser o verbo. Era linda, mas não dessas lindas unânimes. Ele não gostava da beleza unânime, considerava abominável a apreciação indiscriminada dos tipos que se vê na tv. Sempre queria mais... E era aquele mais que ela tinha, e o tinha de forma completamente estonteante.
- Licença. - Ela pediu. Ele, embriagado por aqueles olhos escuros, pensou em alguns milhares de respostas possíveis, impressionantes, charmosas, intimidantes, contudo, não conseguiu fazer mais do que acenar positivamente com a cabeça. O sono lhe tirava completamente a agilidade. Todavia, o sorriso da moça alargou-se de forma espetacular considerando-se a simplicidade do gesto dele. Era o sinal de que sim, ela também sentia nele o “mais”. Ele segurou desesperadamente o urro de excitação. Era preciso agir com cautela, e agarrando-se nesse argumento, ele resolveu não fazer absolutamente nada.
Tornou-se rotina: sol nos olhos, ônibus cheio, parada na roleta, “surgimento”, “licença”, abano de cabeça, sorriso largo. Ele sentia-se revigorado. Apenas aquele sorriso, aquele olhar carinhoso, tornava seu dia mais fácil, mais bonito, e toda terça durava apenas meio minuto... E todo o resto da semana se constituía numa espera por esse meio minuto. Ele, e somente ele, fazia sentido.
Um belo dia – e todas as histórias de amor, mais cedo ou mais tarde, chegam a esse belo dia -, justo naquele dia em que ele se decidira a, pelo menos, perguntar-lhe o nome, o mundo caiu sobre sua cabeça com um peso insuportável: surge a moça, linda, como sempre, porém envolvida nos braços de outro alguém. Não olhou, não sorriu e nem pediu licença, deixou seu homem pedir. E nem precisava. Ele apressou-se em passar ligeiro pela roleta, sair empurrando as pessoas mal humoradas de pé no ônibus, e descer, no ponto seguinte. A dor era insuportável. A chuva, aquela mesma chuva do primeiro encontro, lhe castigava as costas. Ele correu como nunca havia corrido na vida. Correu sem saber para onde e, ao parar em frente a um boteco de periferia, sentou, pediu uma dose de conhaque, se embebedou e cantou a plenos pulmões as canções de Radiohead que o dono do bar, de ressaca em plena terça-feira, deixara, distraidamente, repetirem-se no velho aparelho de som.

quinta-feira, março 22, 2007

Por que Usamos Perfumes?

Poderia responder com uma frase: devido a ideologia da classe dominante. Mas como é mais comum construir os argumentos, aqui vou. Essa discussão está envolvida numa outra, a saber, a da ideologização de discursos a respeito da nação brasileira, a idéia de nação forte,de país do futuro, onde o progresso é a tônica e o desenvolvimento pleno é questão de tempo.
Há tempos, no nosso Brasil, ressalta-se a beleza natural de uma nação "criança", que marcha ininterruptamente para um futuro glorioso. A grandeza territorial e a riqueza natural são, intencionalmente, confudidas com grandeza econômica e política, construíndo a imagem de uma nação pujante, mas ao mesmo tempo mãe, acolhedora.
Ligando esse argumento ao de que é através do trabalho de cada individuo que o desenvolvimento virá - como se cada qual fosse uma engrenagem indispensável à máquina-nação - , difunde-se a idéia de que o país é de todos, e de que o progresso depende da entrega de cada um, leia-se, submissão total às medidas do Estado, esse instrumento burguês que define de fato os rumos da nação e da sociedade. Ignora-se o fato de que uma ínfima minoria tem acesso às esferas decisórias do Estado, e que a labuta do cidadão comum pouco modificará sua própria vida,e muito menos os rumos da nação. Pintando um quadro de cidadãos irmãos, filhos da terra querida,trabalhando todos em prol do crescimento do país, oculta-se as questões de classe. É como se, de fato, elas não existissem, e a pobreza da grande maioria se configurasse numa questão de pouca entrega ao labor.
Em complemento, difunde-se também a idéia de que a riqueza material é dispensável para se obter uma vida harmoniosa e feliz. O trabalho "honesto", a "bondade", a "harmonia" entre pais e filhos, marido e mulher, esse conjunto de "riquezas", é o que importa. Dificuldades financeiras são simples detalhes, como se fosse possivel manter a harmonia e o bom humor passando fome.
Esse estímulo a resignação, a subserviência, aliado à falsa idéia de que todos estão contribuindo igualmente para o progresso da nação, permeiam grande parte dos discursos na nossa mídia, nas escolas, nos lares. É uma praga que assola toda sociedade brasileira.
Por outro lado, há também uma transformação do "mundo dos ricos" no mundo de todos. É como se acontecimentos, ações cotidianas e relações interpessoais comuns apenas aos mais abastados fossem de fato corriqueiras para todos os individuos.Transformar o chute no estômago que é a riqueza desmedida de alguns frente a miséria de milhões em algo inexistente, eliminar ideologicamente esse abismo, é também necessário à manutenção do
status quo.
É nesse ponto que entra o perfume, como elemento ideológico e ideologizante. A idéia de que o perfume é útil e necessário aos mais pobres é mera ideologia. Trata-se apenas de mais um exemplo de transformação do universo semântico de quem é rico no universo semântico de todos. Primeiro, porque as fragâncias que realmente são apreciáveis são bastante caras. Aos pobres resta as imitações, de qualidade duvidosa, no mínimo. Além disso, quem pega um ônibus lotado as 6:30 da manhã, não precisa estar perfumado. Aliás, nem adianta que esteja, pois descerá do coletivo sem o tal aroma. Em suma, o pobre gasta dinheiro que poderia estar sendo investido em outras coisas para suprir uma necessidade ideologicamente forjada, e mesmo assim a supre de forma insatisfatória, considerando-se que os ricos, que andam nos seus carros de luxo, climatizados, saem e chegam perfumados.
Espero que essa parca contribuição tenha servido para alertar o povo, de que a ideologia pode te fazer jogar dinheiro fora... E pensar que chegará onde quer cheiroso como saiu. Ledo engano, meus caros. Juntem-se a luta! Abaixo ao perfume, já!



Obs.: Apenas uma amostra da facilidade de se construir discursos...Essa história é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade trata-se de mera coincidência.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Esperando a Quarta-Feira de cinzas

Pois bem, caros e raríssimos leitores, creio que é tempo de findar minha fase de posts confessionais nesse blog. Primeiro, porque eles são normalmente herméticos demais, evasivos demais, e de fato não interessam a ninguém, transformando um título outrora irónico numa verdade vergonhosa. Segundo, porque o mundo pós-moderno soteropolitano ferve de coisas interessantes para se analisar. Como, por exemplo, ignorar a "magia" e a "energia" que envolvem o carnaval de Salvador? Pois é. É desse enorme evento, que marca, de fato, a virada de ano no nosso país, que venho falar-lhes.
Magia uma ova. É a primeira frase que me vêm a mente ao ver uma das 456 propragandas de blocos de carnaval na tv. Qualquer morador desta cidade sofre nesse período do ano. Sim, no período inteiro, mais conhecido como verão, já que o carnaval aqui começa em Setembro. E porque sofremos? Há inúmeras formas e motivos para o sofrimento. Vou confessar (porra, confessar não!) duas das quais tenho mais proximidade.
Tem aquele cidadão que sofre porque odeia, de fato, festas do trio axé-pagode-forró. Esse cidadão está em maus lençóis. A partir de setembro ele será bombardeado por ensaios, "fest's", feijoadas, festivais e outros tantos vocativos que os empresários arrumam, que acontecem toda semana, todos os dias da semana, em todos os pontos da cidade. Se ele anda de carro, vai pegar engarrafamento. Se anda de ônibus, terá de aturar algumas conversas sobre as festas, e essas conversas costumam irritar bastante. Se ficar em casa, ouvirá, ao fundo, enquanto tenta dormir, o barulho irrtante dos tambores de algum ensaio que acontece na segunda-feira a noite, bem pertinho de sua casa. Sem falar que terá de suportar a poluição visual dos outdoors, a programação tendenciosa das rádios, e os milhares de estudantes em férias que chegam a praia, naquela quarta a tarde em que ele pensara em descansar sozinho numa barraca distante, com o som carro rolando um pagode em volume máximo. Coitado.
O outro tipo de sofrimento é diametralmente oposto: o cidadão que é totalmente fissurado pela "energia" do verão baiano. Bom, esse estará em leçóis ainda piores. Enquanto o outro sofre para fugir dessa avalanche de eventos diários, esse sofrerá horrores com a força magnética que lhe atrai para todos esses eventos, sem nenhuma exceção. Ele gastará todo o seu salário, e fará dívidas. De repente, se pegará acordando de ressaca numa terça, aquela mesma terça em que ele deveria apresentar um trabalho de fim de semestre na faculdade. Ele penará para ser aprovado nessa disciplina.Passará todo o dia reclamando dos exageros que cometera na noite anterior, mas, ao anoitecer, não ressistirá a mais um telefonema e cairá novamente na gandaia. Coitado, também, desse jovem, fruto da era do consumismo.
Mas, o post deveria se destinar a outro tema. O carnaval... A relação do povo baiano com o carnaval é algo impressionante. Hoje, faltando extamente dois dias para o início da festa, a cidade já está diferente. Percebi isso ontem, a noite, quando voltava de um passeio que teria sido ótimo em qualquer outra época do ano, na qual não pegariamos a barra em povorosa daquela forma. Enfim, estavámos em meio a um engarrafamento quilométrico, que já durava muitos minutos. As pessoas de pé, no ónibus, suando feito cuscuz. E na barra, um dos focos da festa. Fora as pessoas que dormiam - sentadas e de pé - as conversas eram todas sobre a festa. Em que blocos iriam sair, em que lugar estratégico iriam se colocar como pipoca, em que praia iriam tomar aquele bronze antes de ir "pegar várias" na muvuca multicor. Ninguém movia os olhos para o verdadeiro caos causado pelos preparativos da festa. Ninguém, além de mim. E esse fato curioso (e também o fato de eu ter arrumado um lugarzinho para sentar) foi transformando minha irritação extrema em silêncio reflexivo... Afinal, o que leva o povo baiano a ignorar todos os pontos negativos dessa festa que marca nossa cidade?
Alguns irão me condenar, mas eu percebo que, para além da estrutura classista do carnaval, da tomada das ruas pelos camarotes, da diferença absurda de preço entre os blocos que seleciona seus sócios, entre outros, o carnaval ainda é a festa mais democrática e popular que se tem notícia. Só não se diverte quem não quer. E a população baiana, que guarda no seu imáginário a idéia vendida pela mídia de que o carnaval é a festa do povo, acaba por transforma-lo nisso mesmo, dando sempre um jeitinho de marcar presença e exocizar todo o peso da coletividade, todo o peso da vida social, fazendo loucuras no mesmo asfalto em que, em outros tempos, se move sonolenta para o trabalho, dentro dos coletivos. E a festa que, apesar de não ser mais para o povo, continua sendo do povo, talvez por sobrevivência cultural; talvez por necessidade social. Quem vai saber? essa talvez seja a verdadeira magia do carnaval. As tentativas frustadas de tirar o povo da rua, por meio do "carnaval alternativo" nos bairros mais pobres, são provas cabais de que não está nas mãos da nossa elite tirar o carnaval do povo. E ele virá, mais uma vez, tomar as ruas. E que venha o povo! (rsrsrs)
Vinicius de Moraes ja dizia que é preciso, mais que nunca, cantar e alegrar a cidade. Catemos, alegremos, e esperemos, alegres, a quarta-feira de cinzas. Até a volta, amigos.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Quando alguém consegue dizer melhor que você mesmo o que você sente.. entendeu? II

Das contradições...
Por que tenho que construir minha personalidade pautada na homogeneidade e no princípio de que a construção de minhas diversas faces tem que ser regida pelo princípio da não-contradição?
Por que tenho que ter explicações para todos os meus atos e tenho que guiá-los pela idéia de que eles devem ter certos fins e que eu deveria ser capaz de saber quais serão esses fins?
Ademais, por que tenho que saber onde meus atos desembocarão se não consigo nem saber quem eu sou hoje, se não sei quem fui ontem e muito menos quem serei amanhã? Aliás, amanhã eu serei alguém ou esse alguém será por mim?
Por que devo me responsabilizar pelas vidas dos outros se não consigo me responsabilizar pela minha própria vivência? Seria uma fuga o fato de que tento diariamente me fazer acreditar que
minha existência deve ser pautada no postulado de que é cotidianamente que se experencia o mundo?
Se é verdade o que uma grande amiga que faz papel de um xamã para mim disse e eu vim ao mundo para me satisfazer, enquanto que os outros têm que satisfazer a si próprios, por que sou cotidianamente construído a pensar e a sentir o mundo todo em minhas costas?
Por que quero me expressar e não saem mais palavras de minha mente, de minha boca, de meu corpo, apenas gestos que nunca verás, contorções, gritos internos, fluxos e refluxos de sentimentos, emoções, contradições, arrependimentos, dissociações?
Por que sou obrigado a aceitar o racionalismo se todas as minhas experiências me ensinam a rechaçá-lo com todas as forças de um coração partido, sangrando ou ainda vibrando por sangrar ou sangrando por fazer outros sangrar???? Por que alguns corações sangram por outros corações?
Por que??? Por que??? Por que??? Por que??? Por que??? Por que??? Por que??? Por que???
Repressões morais a parte, por que não conseguimos deixar de tê-las e sentí-las como uma dor lancinante que torna-se mediação simbólica de todas as experiências que temos, enquanto não conseguimos construir novas categorias que organizem nossas experiências em nossas mentes e corpos? É possível construir essas novas categorias?
Por que considero esse post tão ridículo e, ainda assim, teimo em publicá-lo???
Rafael Arantes

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Ele so escreveu antes de mim porque chegou em casa primeiro. Quem nao partilha dessas duvidas? A fronteira entre satisfacao pessoal e responsabilidade moral ou social eh antiga, e causa uma angustia enorme nos pobres coracoes dos jovens. Porque voltar a um tema tao recorrente? Sabe aqueles dias em que alguns textos sao mais seus que de qualquer outra pessoa no universo? pois eh, hoje eh o dia. Espero encontrar auxilio de algum outro xama que esteja mais perto que o de Rafael. Onde estao vcs, xamas?
p.s.: perdoem a falta de sinais graficos. Hoje descobri que os pcs do CPD sao contra qualquer tipo de acentuacao. E nao me encham muito com isso. Escrevo no intervalo entre uma palestra muuuito interessante sobre alimentos e a minha matricula presencial, aquele evento tao tranquilo e relaxante que os alunos da ufba ja conhecem...

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Contingências da Fortuna e o dom da Virtú: na política e no amor

Maquiavel deveria ser lido por todas as almas vivas nesse planeta. Justamente porque Maquiavel, essencialmente em O Príncipe, serve para explicar absolutamente tudo que possa acontecer em sua vida. Pois sim, se não servir para explicar tudo, servirá certamente para orientar algumas estratégias.
No já citado O Príncipe, Maquiavel parte da premissa básica de que a moral política é diferenciada de outras espécies de moral, e portanto possui uma lógica própria.Sendo assim, o governante, ou príncipe, precisa jogar esse jogo, se deseja se manter no poder. Limitar-se pela moral social,ou religiosa, levará qualquer governante ao fracasso. O cara que governa deve, então, submeter-se à táticas que seriam moralmente condenáveis pela sociedade mas que, sob a ótica da moral política, são perfeitamente aplicáveis. A moral política baseia-se no sucesso: deu certo, é bom; deu errado, condene-a. Foi aqui, em Maquiavel, que os políticos aprenderam que dar ouvidos a protestos da sociedade civil é uma tática muito mais eficiente do que preocupar-se de fato com os motivos deles: a sociedade normalmente fica satisfeita em apenas ser ouvida. Sim, meus caros, foi em Maquiavel que a coisa começou a desandar...Mas esse não é o ponto aqui. Vamos então ao ponto. A correlação com fortuna e virtú é um aspecto interessante dessa teoria maquiaveliana. Virtú, a capacidade do político lidar com os intempérios das circunstâncias, é uma habilidade que certamente não é dispensável no caminho para o sucesso. Maquiavel a trata como algo inato. É como se fosse um dom. Nesse ponto, fica dificil não lembrar: como o nosso presidente tem virtú, não acham? A Fortuna, por sua vez, significa sorte mesmo. O político tem que ter sorte, ou seja, as circuntâncias têm que jogar a favor dele, por que se não, não há virtú que dê jeito...
Bom, sem mais demoras nessa parte, posto que é fácil perder o foco nessa brincadeira de blogar. As estratégias que Maquiavel apresente em seu livro partem da premissa - igualmente básica - de que o príncipe quer, mais que ninguém, se manter no poder. Querendo isso mais que ninguém, ele vai aplicar corretamente sua virtú, fazendo a fortuna trabalhar ao seu favor.
Imaginem agora um individuo, do sexo masculino, solteiro nessa terra quente chamada Salvador. Ele acorda todos os dias e se olha no espelho. Ao olhar-se, ele afirma: "que maravilha! tenho o dia livre, pois estou sol-tei-ro!" Tudo que ele quer é continuar solteiro, ele quer agarrar essa liberdade e não solta-la tão cedo. Ah, mas isso não é nada fácil. Diria que uma dose de virtú e uma ajudazinha da fortuna são fatores determinantes na vida desse pobre individuo. Agora vamos aos porquês...
Primeiro, porque ele quer ser solteiro, mas nunca ficar sozinho. A necessidade de enamorar-se vez ou outra é bem humana, como já disse... quem disse isso mesmo? Enfim, ele quer, ele vai à luta. Ele (as feministas vão cair da cadeira) caçam. Sim, caçam. Ou alguém vai ter coragem de me dizer que festas como o Bonfim Light não são verdadeiras caçadas? As estratégias de caça não estão ao alcance de todos. Seria preciso ressucitar Maquiavel para que ele nos explicasse como aprender a lidar com esse tipo de situação.. Ah, ele nunca faria isso. Virtú não se ensina...
Segundo, porque ele quer enamorar-se, mas jamais namorar! Ai, depois que ele se dá bem na caça, vem o problema: a moça gostou demais dele. Gostou mais do que ele queria. Como dizer a ela que ele não está interessado em se envolver, mas aceita a idéia de vê-la vez ou outra, para conversarem e, quem sabe...Ou seja, virtú, sempre virtú!
Terceiro, e mais importante, a fortuna. Como fazer a fortuna alinhar-se aos seus planos? Sim, pois, de fato, o inverso do último fator acontece. Não necessariamente o inverso, mas uma situação diferente: o individuo se envolve mais do que queria, também. Nesse caso, a fortuna trabalha contra suas intenções. Se envolver não faz parte da intencionalidade do individuo, e sim da estrutura que o cerca. Quando a fortuna age contra, diria Maquiavel,é porque o príncipe não era merecedor do sucesso, pois só a junção da virtú com a fortuna o garantiria. Desta forma, cai o príncipe, e cai o individuo solteiro. Esse último, imbecilizado pela envolvimento desafortunado, começa a achar que nunca quis ser solteiro. Imagine, toda aquela liberdade, toda aquele mundo a descobrir.. O imbecil começa a achar tudo inútil. Percebe que toda a série de estratégias que tentou aprender, toda a virtú para o sucesso na solteirice que ele pensou ser inata, tornam-se desgraçadamente inúteis quando o objetivo se esvai. Cai o príncipe, cai o solteiro. Diferente do primeiro, o segundo rí a toa ao notar que fora abandonado: por Maquiavel, pela fortuna e pela virtú...

segunda-feira, janeiro 01, 2007

As 10 (significativas) conclusões que meu fim de ano proporcionou

1. O Natal têm de ser vivido em família. É ingênua e pueril a revolta adolescente-comunista contra o Natal, porque ela nada faz contra ele. Mas...

2. O Natal não deve ser vivido em família por ser uma festa com um sentido único e todo aquele blá blá blá religioso. Ele é, de fato, a única chance que a grande maioria de nós terá, durante todo o ano, para ver, dialogar, compartilhar histórias e rir com as pessoas que levam o nosso nome. Principalmente para rir de arrotos encaixados hiláriamente em momento nada propícios...

3. Passar o reveillon com os amigos é uma experiência que deveria se tornar obrigatória através de um decreto-lei. Todo cidadão estaria obrigado a faze-lo, pelo menos uma vez na vida. E se ele não tivesse amigos, o governo seria obrigado a os fornecer, assim como faz com advogados de defesa para réus menos favorecidos economicamente. Sem dúvidas um mundo melhor surgiria dessa simples medida.

4. Uma viagem pode ser completamente diferente do planejado, e ainda assim ser inesquecível...

5. É mais que um antigo clichê entre os sociólogos, a afirmação de que uma sociedade, para manter-se coesa, necessita de rarefeitos momentos de insanidade coletiva e barbárie. Você só entende o quanto é importante, para os seres humanos, obter a condição de imbecil temporário quando vê isso, ao vivo e a cores. Muitas cores...

6. O Pagode, esse estilo musical tão polêmico, apresenta relevantes sinais empíricos que apontam no sentido de defini-lo como a condição sine equa non para a instalação do estado temporário de barbárie.

7. Uma barbáriezinha de vez em quando não faz mal a ninguém. E é, como já foi dito, necessária, inclusive para sociólogos e pseudo-intelectuais, não necessariamente nessa mesma ordem nem muito menos excluindo um grupo do outro...

8. O tipo pitoresco de relação amorosa empreendida nesses eventos é de grande utilidade pública. Serve, sobretudo, para que os amigos, expremidos numa casa deveras pequenina, possam rir um do outro enquanto deixam o resto da noite - que em sociedades primitivas servia para dormir - escapar do sol que surge, poderoso...

9. Há sempre um jeitinho - não necessariamente brasileiro - para problemas muito grandes, como uma fila gigantesca. Basta estar com a pessoa certa, na hora certa, e que essa pessoa certa saiba muito bem fazer a coisa errada. "Ah, e a cidadania, meu caro?" Dirá o leitor. "E os direitos iguais dos outros que chegaram antes de você e foram lesados pela sua esperteza?" Vocês entenderão que discursos são sempre discursos. Eu entenderia se qualquer uma daquelas pessoas da fila tentassem me lesar também. Esse é um típico exemplo de como o estado de natureza - de Hobbes - é de fato o quadro da condição natural do homem, para o qual ele se volta sempre que se sente oprimido pelos direitos coletivos. Hobbes era o cara...Principalmente hoje, ele me pareceu muito importante.

10. O vivido não se perde. Os feriados acabam, o próximo dia de trabalho chega e se vai, as promessas de biz ficam mais ou menos fixadas nas memórias. Mas as experiências estarão sempre com aqueles que não as teme. Por isso, meus caros, just push play, e deixa rolar. A dor de uma experiência negativa nunca será pior do que a frustração de não ter tentado, de não ter ficado, de não ter bebido, de não ter pulado, de não ter beijado...


p.s.: As conclusões aqui apresentadas não são, de modo algum, questionáveis, para quem quer que seja. O dono desse blog sabe exatamente do que está falando, de modo que críticas serão sempre rasas e desnecessárias. Muito obrigado.