domingo, dezembro 10, 2006

Porque eu só escrevo aos domingos

Depois de um fim de semana de farra, sempre vem um domingo de maresia... Talvez, depois de um tempo,o ditado pegue tanto quanto água mole e pedra dura tanto bate até que fura. O fato é que meus domingos têm sido de profunda reflexão. O tema? Bem, o tema quase nunca é algo axiológico, filosófico, transcendental...É, na verdade, quase nunca a reflexão é importante. Hoje, por exemplo, passei alguns minutos tentando entender por que motivos os caras muito espertos da Globo deixam Fausto Silva criar quadros bizarros como o "chamando o passado" ou coisa que o valha. O quadro, para quem não teve a oportunidade única de conferir a estréia, trata-se de uma oportunidade gentilmente cedida à uma pessoa afetada emocionalmente, para que essa possa, em rede nacional, superar seu trauma voltando atrás numa decisão estúpida. É a superação midiática - espetacular da psicanálise. Sim, é Fausto Silva marcando seu nome na história.
Bom, a estréia não poderia ser mais caquética: uma ex-aluna que, há 27 anos atrás, rejeitou um cumprimento do professor. Este queria lhe cumprimentar por uma nota A. Fausto se esforçou - de forma admirável - para convencer o público de que esse acontecimento marcou a vida da pobre mulher, de modo que ela não conseguiria sobreviver se não o superasse. Ele quase conseguiu me convencer... Foram então procurar o coitado do professor. Imaginem vocês, um professor de "estudos sociais"... Fiquei pensando como seria uma aula de estudos sociais, no ginásio, há 27 anos atrás. Com certeza essa nota A não deveria ser um motivo de orgulho para moça...
"À historia, por favor!", pensa raivoso o leitor.. Pois sim, seja feita a sua vontade! Voltarei a ela.. A mulher do professor morre de medo da violência da cidade. Por isso, só faltou jogar água fervendo na pobre da repórter. Essa foi a primeira parte engraçada.
A segunda, vejam vocês, foi o professor. Depois de contactado, informado do quadro, ter aceitado participar daquele joguinho ridículo de fingir que não pôde comparecer e aparecer depois quando a moça fazia um esforço deprimente para pedir desculpa perante as câmeras, o bom velhinho adimitiu que, na verdade, tinha "uma lembrança beeeem vaga da história".
O discurso "pela educação" que Fausto fez, logo em seguida, não conseguiu ofuscar a inutilidade intríseca do seu novo quadro. Sim, a televisão é quase sempre inútil. Contudo, ela não se torna, caro leitor, mais insuportavelmente inútil quando seus quadros não tem absolutamente nenhuma utilidade até mesmo para os protagonistas? O velhinho, simpático, não tinha nenhum motivo para estar ali. A moça, a não ser que tenha realmente ficado traumatizada pelo epsódio, também não. E eu, entorpecido pela maresia de domingo, tinha muito menos razões para ficar assistindo àquela palhaçada.
Os defensores da televisão "popular" contra-argumentam dizendo que não adianta colocar na telinha uma programação que não expresse a vida do nosso povo, que não tem, de fato, acesso à cultura. Ele não tem, todo mundo sabe, mas ninguém tem a brilhante idéia de começar a mudar o quadro. Quem veio primeiro, o povo sem cultura ou a televisão idiota( mais uma sugestão de ditado que pode pegar. Lembra aquele do ovo e da galinha...)?
Outra questão é: se a esse televisão é cara do nosso povo, quer dizer que somos todos fofoqueiros sádicos consumistas afetados psicologicamente? Quando formulei a questão, tinha a intenção de responde-la negativamente. Dei um salto da cadeira quando percebi que esse é, na verdade, um quadro perfeito dos cidadãos brasileiros do século XXI. Puta que pariu.. esse mundo não tem mais jeito mesmo!

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