terça-feira, julho 05, 2011

Lições de amor (parte I)

(...) Lembro bem como começou: falaram-me de um tal de Orkut, daí me mandaram o convite. Passando pelo interrogatório para preenchimento do perfil, me deparei com uma pergunta engraçada: “Com relacionamentos anteriores eu aprendi...?”. Eu não sabia responder. Decerto aprendi algo, mas a coisa nunca esteve organizada em minha mente... E continuou sem estar pelos cinco anos seguintes. Hoje, resolvi que seria importante, pra mim, sistematizar todo conhecimento adquirido em minhas experiências amorosas.  Sempre há que se aprender algo. E o único argumento que nos salva de querer morrer só por lembrar-se de ter namorado algumas pessoas é que de fato aprendemos algo que não devemos repetir jamais. 
Eu já tive algumas relações, apesar da pouca idade. Posso dizer que, ao namorar alguém muito jovem, quando ainda se é também muito jovem, você deve saber que aquele não será seu único amor. Se você ainda não se sustenta, e para pensar em trabalhar ainda vai precisar descobrir qual será a sua profissão, não alimente o sonho de casar e ter filhos com essa pessoa. Isso não vai acontecer. E se acontecer, não vai durar. Vocês terão de passar oito ou nove anos ralando para chegar à condição de poder dividir a vida. Além da distância em anos, sempre haverá dentro de si a cobrança por não ter se permitido conhecer o mundo ao seu redor, viajar, ir aos congressos da faculdade, ficar bêbado e dormir na praia do Porto da Barra, beijar mais de uma pessoa durante o carnaval, entre tantas outras peripécias que, apenas quando reunimos as condições de jovem e solteiro, podem ser realizadas.  Porém, não divida essas conclusões com a pessoa amada. Viva o amor até o momento em que ele se torne impossível. Se essas aflições virarem assunto durante o namoro, a única razão para namorar terá se perdido: aproveitar o momento.

Viajando, indo a festas, congressos, casamentos, batizados, velórios e lavagens, você conhecerá muita gente. Conhecendo muita gente, provavelmente você encontrará alguém que pareça perfeito. Mas não se engane, ninguém é completamente perfeito. Na condição de namorar a distância, aprendi que apenas amar não é suficiente. Se você não acredita, não confia, não sente sinceridade no outro lado, toda a relação estará distorcida. A pessoa pode ser uma espécie de mágico (ou ilusionista), que muda as cores da cidade quando está contigo. Porém, se quando ela volta pra casa você sofre muito mais do que deveria, algo estará errado e os meios que você encontrará para suprir esse sofrimento certamente serão insuficientes, além de, em certa medida, desonestos. O que eu aprendi, de verdade, é que não se deve namorar a distância, a não ser que seja o grande amor de sua vida. Mas para saber se alguém é o grande amor de sua vida, é preciso conviver. Só namore a distância se você conviveu e conhece todos os corvos que pousam nos galhos e todas as larvas que comem os frutos da grande copa da arvore mais bonita da floresta, que você pensa ser sua.
Se você se tornar uma pessoa interessante, não faltará quem enxergue em você a arvore mais bonita da floresta. Ao conviver com alguém mais velho, aprendi que a linha do tempo oferece uma gama de objetivos e aspirações diferentes em cada trecho, e que uma relação com essa característica exigirá muito mais concessões e acordos. Abrir mão faz parte de qualquer relação, mas se você tem de abrir mão de algo que não tem o mesmo valor para o outro, o ato de ceder não é devidamente valorizado, o que torna o exercício extremamente complexo. Contudo, você sempre terá algo a ganhar ouvindo essa pessoa. Aliás, ouvir é sempre muito melhor que falar, em qualquer relação. Isso eu aprendi muito recentemente...
Falei mais acima sobre o grande amor de sua vida... Nisso eu não acredito, e entendo que esse foi o maior  aprendizado que tive ate aqui. As pessoas demoram a seguir em frente, quando terminam relações, porque mitificam o ex. É muito comum ouvir que nunca mais será feliz com outro, que ninguém saberá cuidar, amar e respeitar como o ex. Isso não é verdade, de maneira alguma. Existem pessoas com que nos identificamos mais, o que torna tudo mais fácil. Mas relacionar-se, viver junto, dividir a vida é, antes de tudo, um grande esforço. É preciso uma entrega descomunal e uma grande força de vontade para fazer qualquer relação chegar a um status de estabilidade que nos permite concluir que ela vale à pena. Esse é o fator que nos faz tornar o ex um mito, pois quando se sai de uma relação onde já se tinha o conforto da mesmice, é preciso ter o trabalho inteiro novamente. É muito mais fácil concluir que o ex era perfeito e tentar resgatar com ele uma relação que, em muitas vezes, não tem mais nada a nos oferecer. Somos naturalmente avessos a mudanças, e tornar o ex um mito insuperável só torna a mudança – muitas vezes inevitável – ainda mais difícil. Ninguém controla seu potencial de ser feliz além de você mesmo. Ninguém é perfeito para você se você não estiver disposto a ser perfeito para alguém.  Além disso, o amor de sua vida provavelmente não será aquele que cai ao seu colo: se você quer ser feliz com alguém, vai ter de batalhar por isso.
Vamos arregaçar as mangas e cair pra dentro. Mais importante que cair e se levantar, é levantar, limpar as feridas e seguir em frente sem perder o tom, a graça, e a ternura. Jamais.

Obs.: mais uma da série “emails que enviei a alguém”. Um dia vou publicar todos os meus emails enviados...

6 comentários:

aderbal disse...

ah! o amor inspira (:

Ju Dias disse...

simplesmente amei o texto!!!
bjinhos!!
estava sentindo falta!!!

Giselle disse...

Esse ficou super show! Fã! =)

Paula Moraes disse...

Realmente muito bom! Confesso que os dois primeiros paragrafos me deram medo...mas no final, vc falou tudo! Realmente criamos parametros que são baseados numa perfeição que não existe! Adorei!!

Paula Moraes disse...

Ficou lindo, meu lindinho! Adorei! Tudo a ver com o blog! Já ate me cadastrei!

Fernanda Furtado disse...

Ainda não tinha lido. Lindo lindo... Acho que também preciso fazer essa sistematização.