segunda-feira, setembro 25, 2006

Para o amor, as minhas sem razões

As sem Razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Carlos Drumond de Andrade

Amor foge a dicionários...E foge, igualmente, das explicações racionais para sua presença, ou ausência repentina. É ainda mais amor, no sentido de Drumond, quando submete um quinhão seu a não-existência inexplicável, enquanto mantém viva uma parte, a qual faz sofrer imensamente o novo não-amante. E se cada instante o mata, porque então sofrer quando chega-se ao instante derradeiro?
O amor é imponente e opressor, na medida em que aquele que duvida de sua eternidade é obrigado a conviver com a dor do outro, que o cultua e o dá uma explicação metafísica que é, em si mesma, vazia. O amor é a instância derradeira do encantamento do mundo. Mas o fogo que arde sem se ver queima a carne, e faz o mais novo não-amante se sentir culpado por não mais sentir essa dor...E que a carne do outro pare de arder, torna-se seu mais novo objetivo. O amor é cruel, sádico, quando deixa a casa, mas não leva seu chapéu...

4 comentários:

Anônimo disse...

Brilhante!!! Realmente, o amor é o aprender a sofrer e depois vc ainda sofre por não sofrer mais... Não é uma loucura??? Mas todos corremos atrás desse tal amor, pq senão nos tornamos um outsider do amor, como escrevi no nosso blog há um tempo atrás. Sofrer é normal, por isso quem não ama ou quem não é amado (ou melhor, não sofre), vive dias e dias procurando sofrer... Cartas de tuberculoso! Não esqueçamos, porém, que o amor é "o derradeiro encantamento do mundo" e que precisamos e sempre precisaremos da nebulosa afetual!!! Grande abraço!

Anônimo disse...

O amor é cruel, sádico, quando deixa a casa, mas não leva seu chapéu...

Genial...

Anônimo disse...

Perfeito!!!
Muito bom o seu comentário sobre o poema (eu sou suspeita em falar, pois esse é um dos meus favoritos,rsrsrs), está simples, sutil e intenso, assim como o próprio Drummond!!
Humm, mas por que se sentir culpado por não sentir mais a dor, se, com a sua ausência, podemos nos fazer e sentir mais livres e confiantes para as nossas novas conquistas?
Então, o amor é isso que estamos vendo, tem seus altos e baixos, mas não podemos deixar de acreditar na sua força, digamos que é um mal necessário,rsrsrs.

Obrigada por me fazer ler texto, me fez pensar mto.

E como disse o próprio Drummond - " A dor é inevitável, o sofrimento é opcional "

Bjos meu sobrinho.

Anônimo disse...

"O amor é cruel, sádico, quando deixa a casa, mas não leva seu chapéu..."

fantástico esse final!
Por isso que eu bebo!
Bebo pra ver no fundo do copo o rosto de minha amada!