terça-feira, novembro 11, 2008

Bond e o (auto)elogio

Só uma coisa me deixa mais chateado que um domingo a noite: o autoelogio, essa praga da sociedade competitiva capitalista. É fácil supor que, se você é realmente muito bom em alguma coisa, não vai precisar sair dizendo que o é para conseguir reconhecimento das pessoas que o cercam. Na teoria, todo mundo sabe disso, mas na prática...
Tudo bem, ter autoconfiança e orgulho próprio é importante; também é importante saber reconhecer suas qualidades, vá lá, todo psicólogo diz isso e reconheço que deve realmente ter alguma influência positiva nas nossas vidas, isso de pensar positivo a respeito de nós mesmos. O problema é quando isso sai da esfera do pensar e chega ao nível do abrir a boca, em meio a uma conversa sobre um tema qualquer e dizer: "pô, nisso ai eu sou muito bom, não há quem supere", ou algo que o valha.
O autoelogio é, via de regra, constrangedor. Para quem ouve, lógico. Porque quem o faz tem a certeza de estar fazendo (e falando) algo de positivo pra si mesmo e pra quem o ouve ( não me pergunte em que argumento estes se baseiam). Imagine as duas situações: de fato a pessoa é muito boa naquilo; ou não, nem de longe, ela é aquela coca-cola toda. Em ambos os casos, a resposta do interlocutor será sempre, sem excessões, um sorriso amarelo, que tem entretanto causas diferentes: se ele de fato é bom, o melhor de todos, é complicado pra qualquer pessoa que tem o mínimo de estima por si mesma admitir que há alguém que é muito melhor do que ela, no que quer que seja; Se ele é péssimo, não é assim tão bonito, nem sabe cozinhar tão bem, um certo nível de intimidade é um requisito para que a resposta vire um deboche, e se essa relação próxima não existe, é batata, sorriso amarelo acompanhado de uma mudança de assunto providencial.
Sabe, eu acho que deveria haver uma lei permitindo o autoelogio apenas para sujeitos que fossem o James Bond, ou o Chuck Norris, mas eu prefiro o Bond. Sempre fui fã de Bond, o que me parecia uma contradição, já que filmes de tiro nunca me fizeram pagar 4,50 numa sessão de cinema. Agora percebo que sou fã de Bond porque ele é a única personagem que conheço que tem legitimidade para usar o autoelogio. Vejamos. Bond ouve de uma certa Bondgirl: "Sabe, ainda que acabassem com você e te deixassem apenas a cabeça e um dedo, serias mais homem que todos que conheci." Ao que Bond responde, espetacularmente, "é porque você sabe o que eu sou capaz de fazer com meu dedinho". Ela retruca: "mas eu não sei do que seu dedinho é capaz", e ele, genial, "mas está doidinha pra saber".
É isso crianças. Se vocês não reúnem as três condições de James bond, a saber:
1. Ser foda;
2. Saber que o é, e falar disso abertamente para todos;
3. Parecer ainda mais foda ao falar a todos que é foda.
Resistam à tentação do autoelogio, e contribuam para uma sociedade com menos momentos constrangedores. Obrigado.
p.s.1: Não me perguntem como é possível saber se reúne essas condições. Eu não conheço ninguém que as tenha.
p.s.2: Em breve explicarei detalhadamente a crise econômica, apresentando a única saída viável para que o mundo retome o crescimento e o Brasil vire uma potência. Por enquanto, deixa eu continuar falando besteira, tá?

2 comentários:

Tiago Lorenzo disse...

Vou logo avisando que só vou comentar sobre James Bond, porque de James Bond eu entendo.
Sou um dos caras que mais entende de James Bond, já vi todos os seus filmes.
Realmente, não tem quem possa discutir comigo sobre James Bond.

Quando alguém me perguntava que herói eu queria ser eu sempre respondia: James Bond.
Mas o antigo, esse novo não, porque ele sangra.
Os antigos são ótimos, ele não sangra, balas não o atingem, ele não sua, seu cabelo não sai do lugar e ele ainda come todas as mulheres gostosas que aparecem no filme.

Fernanda Furtado disse...

Só li agora, mas adorei. Rendeu as melhores risadas do meu dia.