sábado, dezembro 12, 2009

Sobre o tempo

Eu fico procurando algum acontecimento importante para discutir, algo que não tenha nada a ver comigo, mas acabo sempre voltando para o meu mundo particular. Não que eu não tenha me empolgado com a final do campeonato brasileiro ou não saiba que tem gente morrendo em enchentes, mas, sinceramente, entre as últimas coisas que causaram grande impacto na minha vida estão os relógios de uma relojoaria da esquina aqui de casa.

Os antigos têm aquele pêndulo que nos lembra o tempo todo que o tempo está passando. Em um deles, o ponteiro dá uma tremidinha cada vez que muda de lugar. Ele é um relógio confortável – dá a falsa impressão de que o tempo para, ainda que por alguns milésimos de segundo. Tempo para você conseguir respirar e colocar a cabeça no lugar. Mas não, a vida não para só porque você precisa de alguns minutos, ou alguns meses, para se recompor ou pensar melhor. O último relógio é a maior prova disso. O ponteiro dos segundos se move continuamente, sem nenhum movimento hesitante e em uma velocidade que faz você rever a sua concepção do que é um minuto realmente.

Eu fiquei observando esses relógios enquanto esperava que o meu próprio relógio fosse consertado – é um relógio barulhento e eu sempre ouço seu tique taque quando levanto o pulso até a altura da orelha para prender uma mecha de cabelo que insiste em cair no meu rosto. Mas é um tique taque que eu adoro. Tem algo de assustador mas também algo de excitante em saber que qualquer coisa pode acontecer, que ninguém sabe do futuro e que o tempo, ainda bem, não para.

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