terça-feira, agosto 08, 2006

Só se vê na Bahia?

As eleições se aproximam. Nos vemos, mais uma vez, em frente a um mar de absurdos: candidatos, coligações, propostas, noticias, funcionamento do congresso. Todos absurdos, de fato, mas que já nos parecem incrivelmente comuns. Sim, comuns! Que de nós fica espantado com um novo escândalo no congresso? quem se preocupa com o fato do principal rival do obscuro governo Lula ser um católico radical ligado à Opus Dei, e que mantém um discurso que beira o facismo no que tange à luta contra a violência, por exemplo? Pois é, a inércia e o ostracismo são as respostas mais confortáveis que os cidadãos do século XXI puderam encontrar. O não-espanto, a não-revolta, frente à uma conjuntura política que, logicamente, deveria levar a um comportamento oposto. Há ainda quem critique a campanha da MTV, a favor do voto nulo... Entendo que é mais válido defender alguma coisa - ainda que seja o discutível voto nulo - do que não defender absolutamente nada.
Enfim, dentro do contexto do não-espanto, me debrucei sobre um vídeo que tem rolado na net, onde a "baianidade encarnada", o famigerado ACM, defende, sem nenhuma sombra de vergonha, que as forças armadas "atuem" e defendam a "soberia nacional". É uma coisa tão descarada que deve fazer os sobreviventes da nossa ditadura sentirem novamente aqueles calafrios ao lebrarem da tortura...Como é possível que esse tipo de discurso ainda sobreviva no nosso país? O que faz com que um ator político toque num assunto aparentemente "inapropriado" e saia ileso, sem nem ao menos uma puxãozinho de orelha? Aqui na Bahia, onde ele construiu seu império, inclusive dominando a imprensa, nada disso tem importância: ACM é o rei, não importa o que ele diga. Se ele falou, é o melhor pra Bahia...Mas essa é apenas uma das causas.
Primeiro, porque aqui nada mais espanta. Uns roubam, outros usam a máquina pública em beneficio pessoal, e outros defendem ditaduras, ué... Aqui vale tudo.
Antes que se caia no lugar (e erro) comum de afimar que " o coronel sempre volta as suas origens", é mister entender que ACM nunca foi coronel. Antes disso, sempre foi um ator politico dos mais competentes, que soube absorver a conjuntura e agir de modo a fazer com que ela lhe favorecesse. Foi assim na ditadura, foi assim no nascimento do Brasil neoliberal.
Mas o que explica o comportamento do nosso ancião, afinal? Talvez seja saudade dos tempos das rédeas curtas. Talvez seja um sintoma de sua desconexão com a atual conjuntura política, indicando que uma aposentadoria está próxima. A mim me parece, sem sombras de dúvidas, que ele falou por que acha que pode falar, que ninguém irá questiona-lo e que ainda poderá angariar algum prestígio frente à setores pouco críticos da burguesia nacional. É triste, mas tudo leva a concluir que, se o que o motivou foi o último motivo, ele está cheio de razão...

2 comentários:

Anônimo disse...

"...a inércia e o ostracismo são as respostas mais confortáveis que os cidadãos do século XXI puderam encontrar. O não-espanto, a não-revolta, frente à uma conjuntura política que, logicamente, deveria levar a um comportamento oposto. Há ainda quem critique a campanha da MTV, a favor do voto nulo..."

Nossa! Gostei... É a cara do Jean Baudrillard. Um sociólogo pós-moderno que eu curto bastante. Se não conhece, procure um livro dele. Abraço.

Anônimo disse...

Amor, vc descreveu perfeitamente o nosso quadro político! Onde ficar quieto e ver no que vai dar é a saída mas confortável, esquecer é mais rápido e, o melhor candidato é aquele que nos oferece um melhor presente pelo voto!
Ator político, é exatamente isso que ACM é! E o pior é que existem pessoas que acreditam em abobrinhas, e que o defende com aquela frase ridícula "ele rouba, mas faz"! Quem merece?
Adorei o texto,é maravilhoso! Bjos!