terça-feira, novembro 14, 2006

"Onde está nosso Capital Social?" Ou "Porque tenho que aturar o Salvador Card"

O título já traz o tom de minha revolta. Outro dia, no meio de uma fila quilométrica, com objetivo simplório de garantir nosso direito de ir e vir, eu e um amigo rato filosofávamos a respeito da canilhice e da acomodação do povo baiano frente a esse chute no saco chamado Salvador Card.O engraçado é que todos na fila reclamavam... Poucos ali - provavelmente nenhum - teria dado a cara à tapa de polícia como eu fizera. Reclamar é infinitamente mais fácil. Enfim...
Revoltas-potencializadas-por-minhas-variações-hormonais à parte, é sobre essa acomodação que eu quero falar-lhes. É interessante como certas leituras podem fazer você mudar completamente de opinião sobre certos assuntos. De repente, tudo passa a fazer sentido - mesmo que seja um sentido deprimente. Quando tomei posse do livro "Capital Social", da Maria Celina D'Araújo, juro que não imaginava encontrar nele algum alento para meu sofrimento naquela fila. Mas até que essa relação é menos absurda que outras já promovidas por aqui. Essa, pelo menos, não causará rodopios no túmulo do citado ( ela provavelmente ainda está viva, espero).
O Capital Social é a "argamassa" que une os tijolos de uma sociedade. É, grosso modo, a capacidade de manter um bom nível de confiança nas relações interpessoais, de um lado, e dessas pessoas com as instituições, de outro. Ou seja, o Capital Social, sob a segunda ótica, está diretamente ligado ao nível de civismo, ou cultura cívica da sociedade. Cabe aqui a crítica ao institucionalismo: apenas "boas" instituições não controem uma sociedade mais democrática. Sem Capital Social, as instituições viram bichos enormes, papões, dos quais não se chega perto. Siglas indecifráveis; normas incompreensíveis... Passei alguns anos de minha vida tentando entender o que significava INSS, BNDES ou UNESCO. Não se preocupem, já desisti da brincadeira...
Portanto, falta-nos justamente o Capital Social. Quando não existe a consciência cívica, as instituições podem ser o que quiserem. Aliás, não apenas ser, mas fazer, também. Ai está o Salvador Card. Parar o trânsito incomoda; quebrar ônibus dá um certo prejuízo; diálogo entre sociedade civil organizada e instituições é a única chance de resolver, ou pelo menos amenizar as consequências que me parecem tão nefastas.
Devo confessar, impulsionado pelo ódio discreto que alimento de mim mesmo, que o que me traz conforto em perceber a verdadeira causa da nossa inércia é, de fato, concluir que eu sozinho não posso fazer muita coisa pra mudar o quadro. A não ser, é claro, escrever e lamentar nas mesas dos bares. Mas que assim seja: se não podemos mudar miséria, que ela nos sirva, ao menos, para fazer arte...

2 comentários:

Anônimo disse...

De fato... de fato... Tem certas horas q nos sentimos ínfimas criaturas massacradas pelo gigante e amedrontador sistema... social?...
O "explorador" card nada mais é do q a voz daqueles q podem gritar, entende-se como pagar, mais caro... não me refiro aos filhinhos de papai mas sim aos donos das empresas, os beneficiados com toda essa palhaçada que destroi os direitos de ir e vir do cidadão soteropolitano. Interessante tmb vc ter comentado o fato de ir as ruas e dar a cara a tapa ... muitos não fizeram o mesmo, ignorantes talvez, por não saber ao certo o porq de tanta agitação afinal de contas era tudo uma melhoria e modernização do sistema... só q não houve a preocupação em saber qual seria o sistema melhorado, afirmo, o de transporte não foi! ...
Em 2003 o aumento da passagem era algo q não podia ser maquiado, este ano usaram todo aparato de embelezamento digno dos grandes picadeiros para fazer a população mais desinformada verdadeiros telespectadores da palhaçada Salvador card, telespectadores feís ao ponto de transformaram-se em personagens...
Interessante a reação da população ao olhar a manifestação dos estudantes... acharam que tudo aquilo era "oba-oba!" recriminaram as atitudes de protesto, assistiram imparcial tudo o q ocorria...
Indignados vamos todos acabar na fila do explorador card... triste fim...

Anônimo disse...

manada é manada