segunda-feira, novembro 06, 2006

Que façamos arte, pelo menos

Sinal Fechado
Chico Buarque
Composição: Paulinho da Viola

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!


Engraçada essa nossa sociedade. O mundo virtual destruiu a necessidade da exposição pública como passo inevitável da conquista amorosa. Meu pai, quando queria paquerar, provavelmente tinha como única alternativa ir à praça no domingo espiar as moças bonitas, quem sabe até falar com elas, conversar banalidades... Um processo árduo, sem dúvida. Contudo, hoje ninguém precisa mais fazer isso. A internet resolve tudo para nós. Para os mais discretos, existem sites com milhões e milhões de perfis de mulheres e homens ideais para alguém. Basta escolher e clicar, como se estivessem disponíveis numa prateleira de supermercado. Para os mais pobres e menos inibidos, basta entrar no maravilhoso mundo do orkut, onde milhões e milhões de perfis, todos tipos ideais orkutianos ( adotei a expressão de alguém...) estão lá, à distância de um clique, e "de graça". As distâncias estão indubitavelmente mais curtas.
Agora, o paradoxo: do que adianta toda essa facilidade tecnológica se as pessoas, a exemplo da música do Chico, não têm tempo para amar? Estamos todos correndo tanto que, até mesmo quem não está, se sente constragido em assumir... O amor se restringe a encontros de sábado a noite, cumprimentos ligeiros nos corredores, conversas no sinal fechado...O preço de se diminuir virtualmente as distâncias, é tornar as relações que provém dessa diminuição essencialmente virtuais, também.
Se é triste? Sim, é. Mas confesso que, para mim, enquanto nos lamentarmos em forma de arte, como fizeram Chico e Paulinho, ainda valerá a pena tentar...

3 comentários:

Anônimo disse...

Muy bien!!! Muito bom esses post, reflete a situação geral das pessoas ultimamente (Eu que o diga,rsrs). Mas pelo menos ainda temos a internet, pior é lembrar que nem todos tem acesso a ela, ficando restritos a raros telefonemas.
É bem verdade que nada melhor que o contato, olho no olho, gestos, sorrisos... nisso a internet deixa a desejar. Maass, ruim com ela, pior sem ela..assim podemos matar um pouco a saudade que sentimos dos nossos amigos, das pessoas q são especiais p gente, mesmo q seja vitualmente, vale a pena...ainda vamos ter mais tempo p gente, enquanto esse dia não chega, vamos nos rendendo mesmo ao orkut e MSN né meu querido?
Rsrsrs.
Bjos!!

Anônimo disse...

Não precisa dizer mais nada...


O coqueiro ja está plantadado...



só falta irmos pra Praia do Forte...


= **

Priscila disse...

confesso que o mundo virtual me cansa um pouco.Sem dúvidas a internet,por exemplo, revolucionou as relações humanas e eu sinceramente não sei onde isso chegará.