quarta-feira, maio 16, 2007

Dois pesos e duas medidas

Tenho uma teoria: A vida se torna mais pesada e dificil na medida em que mais se procura entendê-la, o que não deve ser nenhuma novidade para vocês. Mas aqui quero ressaltar o aspecto mais particular dessa minha teoria: quem vê o mundo sob o ponto de vista sociológico sofre muito mais que a maioria das pessoas.
É uma doença terrivel, essa de colocar uma lupa de aumento diante dos olhos e olhar para o mundo...E a causa é óbvia,pois é fácil concluir que quanto mais se aumenta um problema, mais grave ele lhe parece. Vejam por exemplo, o caso das moças que passam a ser feministas depois de conhecer o mundo de teorias pautadas na causa do feminismo. O aumento do campo intelectual é diretamente proporcional a drástica diminuição do campo de potenciais casos de amor. Isto porquê qualquer pedido, qualquer ato que denote algum sentimento de submissão(ainda que relativa) feminina, ou até mesmo uma demonstração de cavalheirísmo, se torna o mais absurdo dos atos contra o histórico do movimento feminista, da causa da libertação das mulheres em todas camadas e redutos históricos de poder masculino na sociedade capitalista. O cara se torna a última sobrevivência do machismo mundial. Deve ser condenado à forca e posterior esquartejamento e exposição das partes em praças públicas.
Antes que me apedrejem, não digo que os atos não sejam,comumente, machistas. Nem, muito menos, que a militância esteja equivocada. Não, nada disso. Meu foco aqui é outro: será que essa moça se satisfaz a cada relacionamento desfeito por conta de um ato machista? Não, de forma alguma. A vida pesa muito mais para ela, nesse sentido, do que para a outra que simplesmente dá um tapa no braço do amante e diz, entre sorrisos largos:"deixa de ser machista, pô!".
Para dar maior validade a essa teoria, trago um exemplo que é mais meu. Tem coisa mais chata do que perceber que as pessoas não gostam de ver tv com você? Sim, porquê você é aquele cara chato que vê problema até em comercial de sabonete. Não é tão mais simples sentar em frente a tv no domingo a noite e rir das video-cassetadas? É. Não é mais leve assistir ao jornal nacional e acreditar em tudo que lhe dizem lá? É, também. O mundo de hoje é um contraponto ao pensamento crítico. E é isso que faz com que nós ( incluo também aqui o leitor crítico, politizado e altamente qualificado desse blog) sintamos a vida tão mais pesada do que sentem as pessoas que nos cercam.
Baseado nesses fatos foi que, ontem, chutei o balde. Ao ver um video em que uma pobre senhora tenta repetir desgraçadamente a simples expressão www.youtube.com, eu me livrei da idéia de que aquilo é a representação do apreço que a nossa elite tem pelo nosso povo, do fato de que é naquele nível de miséria intelectual que a maioria dos brasileiros estão, de que o fato de ser uma mulher negra não seria de forma nenhuma irrelevante nesse caso, de que esse quadro estará sempre a anos-luz de mudança enquanto exemplos como esse forem apenas piadas, entre outras tantas reflexões sociológicas, políticas, antropológicas, filosóficas que poderiam perpassar minha compreensão do fenômeno, parar rir até perder o fôlego.Ora, é engraçado por ser, e ponto final. Assim, fica tudo mais fácil, a vida pesa menos, e somos todos mais felizes. Concorda? O pior é que eu também não...

Um comentário:

Anônimo disse...

Sinto lhe informar mas n faço parte do "nós (incluo também aqui o leitor crítico, politizado e altamente qualificado desse blog)" do texto 'Dois pesos e duas medidas' do seu blog. Já tinha visto o vídeo do youtube, por vezes me lembrei dele, porém em nenhuma dessas cheguei ao ponto de fazer tal reflexão q vc expressa no texto. Por vezes fiz parte do grupo q simplismente ria até perder o fôlego. Logo eu, q teoricamente deveria fazer parte do grupo q sai do senso comum e estar sempre pronto p a crítica, passei totalmente desapercebida. Me fez lembrar da necessidade de olhar td c outros olhos e c mais atenção, mais ainda de uma frase de um livro de José Saramgo: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara." Depois de ler o texto percebi minha cegueira... Gostei muito dos textos.