sábado, agosto 15, 2009

Ah, o amor...

Uma amiga minha chegou aqui em casa há alguns meses chorando. Acho que todo mundo já passou por isso – se apaixonar por uma pessoa que, por mais que tente, não consegue se apaixonar por você. Naquele dia ela tinha ouvido a desistência do seu objeto de desejo. “Não é você. Sou eu”. Eu fiquei com pena, mesmo, porque há pouco tempo ela tinha ouvido de outro cara que ele não queria namorar ninguém naquele momento, que não estava pronto para isso, mas que se tivesse que namorar alguém seria ela. Menos de um mês depois ele começou a namorar... outra.

Então, bêbada e completamente imunda, sentada na minha varanda, ela chorava tanto que dava dó, e continuava repetindo a mesma coisa: por que eu? Por que é que as pessoas não se apaixonam por mim? Olhando de fora parece ridículo, tão ridículo quanto as bobagens que a gente pensava quando tinha quinze anos. Eu mesma já acreditei que nunca mais iria me apaixonar por ninguém, e na última vez eu já tinha bem mais do que quinze anos. Mas olhando para ela ali naquele momento, eu não sabia o que dizer.

Minha irmã tinha um livro que eu adorava e que até hoje eu não sei como foi parar nas mãos dela, que nunca gostou muito de ler. Era uma versão de bolso de Dias e Noites de Amor e de Guerra, de Eduardo Galeano, o mesmo autor de As Veias Abertas da América Latina, que eu nunca tive saco de ler. É um livro de memórias, e eu acho que li umas mil vezes. Um dos trechos que me marcou foi um em que ele conta sobre o dia em que a filha pequena chegou da escola chorando e ele foi perguntar o que tinha acontecido. Ela e a melhor amiguinha tinham “terminado”, e a única reação que ele teve foi colocá-la no colo e chorar junto com ela. Era isso o que eu queria ter feito por minha amiga. Eu sabia que tudo o que ela dizia era bobagem, mas ainda assim eu sabia exatamente como ela se sentia. Quem nunca se sentiu assim? Como se não fosse merecedor de nenhum amor e sem saber o por que?

Eu sei que quando alguém diz algo do tipo “Não é você. Sou eu”, no sentido de “não é você que não é boa o bastante, sou eu que não estou pronto”, diz com a melhor das intenções. Mas acho que às vezes as inverdades que a gente conta para não magoar um inocente acabam magoando mais do que se tivéssemos dito a verdade nua e crua. Afinal, se apaixonar não é bem algo que a gente escolha, é algo que acontece. Sim, céticos e sociólogos, não estou dizendo que amor seja algo metafísico ou que nosso horizonte de escolha não seja determinado por uma série de variantes, mas, ainda assim, em geral, o amor é algo que simplesmente acontece.

Acho que teria sido mais fácil para minha amiga ter ouvido algo do tipo “eu tentei, mas não consegui me apaixonar por você”. Teria doído mais na hora, mas não teria magoado tanto quanto saber, um mês depois, que a questão não era o fato de ele não estar pronto para um compromisso, mas sim de que ela não era boa o bastante para ele querer um compromisso.

Minha irmã sempre me diz que tem verdades, ou melhor, formas de dizer a verdade, que eu sou a única pessoa do mundo que quer ouvir. E mais. Ela diz que eu deveria perdoar as pessoas por mentirem para mim, afinal, elas só estão me dizendo o que elas pensam que eu espero escutar.

Eu me lembro que uma vez eu acusei um dos meus “amantes” de ter percebido que eu estava apaixonada por ele e que, mesmo sabendo disso e sabendo que não queria nada sério comigo, não me disse nada. Foi simplesmente levando a coisa para ver onde ia dar, sabendo exatamente onde ia dar – em merda (eu simplesmente não tenho outra palavra). E me lembro bem da resposta dele: “Mas você queria que eu fizesse o que? Se eu tivesse te dito que eu não queria nada sério sem antes você ter me dito que queria, seria muita presunção da minha parte”. Bem, ele partiu meu coração para não parecer convencido. É a defesa mais idiota que eu já tive oportunidade de ouvir. Não que eu mesma já não tenha feito pior.

O que me faz lembrar mais um episódio das minhas férias: quando meu primeiro grande amor veio me pedir desculpas por todo o mal que me causou quando tínhamos dezesseis anos. Ele anda sofrendo por amor ultimamente, e está convencido de que é tudo por causa do carma – todo o sofrimento que ele causou está voltando para ele. Imagino se o mesmo já não aconteceu comigo.

Minha prima, que, apesar de ser filha de um dos piores divórcios que eu já presenciei, acredita genuinamente no amor romântico e em príncipes encantados (acho que é porque ela já encontrou dois), defende a teoria de que todo sacana já foi sacaneado um dia, e que sua vítima, inevitavelmente, se tornará um futuro sacana. Ela acredita tanto nisso que ela não tem medo de ser sacaneada – ela tem medo de se tornar uma sacana. Segundo ela, esse círculo vicioso se repete eternamente e estamos todos (menos ela) fadados a nos foder (faltam-me palavras melhores de novo) no amor. Nossa única chance é encontrar alguém que ainda não tenha sido sacaneado, e isso antes de nos tornarmos sacanas. Acho que só os menores de dez anos tem salvação então.

Bem, se eu terminar mais esse post dizendo que, apesar de tudo isso, eu ainda acredito no amor, alguém vai me bater, não tenho dúvidas. Mas é verdade, o que é que eu posso fazer? Eu já cansei de ver o passado transbordando no presente, e sei bem que um coração partido dificilmente se abre para o novo, e que só de se fechar ele já parte outros corações. Mas desde que não adotemos uma filosofia Cazuza de amar, acho que todos temos salvação. Afinal, o amor não deixa de ser amor só porque acabou. É como aquela história do casal que se divorcia depois de 30 anos de casamento e alguém diz: que pena que não deu certo. Mas deu certo! Deu certo por 30 anos. Tudo bem que hoje em dia nada dura 30 anos, mas e daí? Vale pelo que durar. E assim manteremos nossos corações partidos funcionando e seremos todos felizes para sempre.

3 comentários:

Roberto Dantas disse...

Nanda,

Confesso que estou impressionado pela harmonia que vocês estão conseguindo nesse blog, ao ponto de que eu não consiga saber quem é o autor até que veja a assinatura do post. Enfim, parabéns a vocês.
Quanto ao post eu acho que qualquer tentativa minha de acrescentar alguma coisa..seria vã, acabaria sendo clichê ou ainda dando voltas sobre um assunto tão controverso para cada caso. No entanto, acredito que o raciocínio caminhe pelo rumo do círculo vicioso, inerente ao que pensamos, quando nos damos conta estamos com alguma papel neste teatro da vida de cada um, com seus herois, vilões e coadjuvantes, que hora se apresenta como comédia outras horas como tragédia e assim seguimos "la bella vita".

Fernanda Furtado disse...

Roberto,

De fato, se somos heróis ou vilões, depende da perspectiva de quem conta a história. Esses seus toques finais sempre colocam no lugar os detalhes essenciais pelos quais eu me passei.
Sobre a harmonia, obrigada. Eu e Antônio temos passado pelo crivo um do outro e acho que isso tem ajudado bastante, caso contrário você estaria lendo meu texto sobre a polêmica da depilação ultra-completa.
Enfim... dessa vez eu respondi!

Kelly Fontoura disse...

Também estou adorando este casamento, me pego sempre entrando no blog para ver se tem textos novos. Deste modo, espero que este casamento seja bem aproveitado enquanto dure, assim como a sugestão de Nanda no post.
Sou suspeita para falar, pois adoro o que meus ratinhos queridos escrevem...hehhe

Bjão para o casal "bloguistico"!