domingo, junho 25, 2006

Um fato, duas versões...

" Um ônibus lotado num dia cinza. Pessoas caladas, cada qual pensando nos seus problemas, desejos, aspirações... Algumas falam, expondo a algum conhecido os mesmos sentimentos que os outros apenas pensam. É um dia normal. É só mais um dia.
O ônibus pára. A porta dianteira se abre. Pedintes e baleiros, além de senhores de idade e deficientes usam-a todos os dias para entrar no coletivo. Até ai, tudo normal. Porém desta vez, grata surpresa, sobe uma figura diferente. Com seus quase cinquenta, humilde, um chapéu levemente inclinado na cabeça, roupas sujas e deveras desgastadas. Ele trazia uma pequena sanfona junto ao peito. Sentou-se, agradeceu ao motorista e começou a se preparar para a apresentação. O rosto sofrido trazia um leve sorriso, como quem anuncia o momento singular que estava por vir.Ajeitou a sanfona, e pode-se ouvir as primeiras notas.
Concomitantemente, vieram as reações. As pessoas notam quando algo interfere no seu dia normal. Os que falavam, calaram-se. Alguns fizeram cara de reprovação. Outros - a grande maioria - esboçaram um sorriso. "laiê, laiê, laiê rerê rerê...", e os sorrisos aumentaram. De repente, o dia cinza parecia ter ganhado mais cor, o céu mostrava um lindo azul, as árvores estavam mais verdes. A alegria da múscia contagiou a todos. Alguns insistiam em manter a cara de dia normal. Outros acompanhavam alegremente os versos " minha vida é andar por esse país...". O artista popular atingiu sua meta: trouxe alegria ao seu público.
As moedas que pediu em troca nunca pdoeriam pagar a dose de ânimo e de energia trazidas por sua música. E mesmo assim, o velho pobre, com as marcas de sofrimento de uma vida muito dura, saiu sorridente, desejando um bom dia a todos. Elel saiu feliz, apesar de ganhar apenas o necessário para sobreviver. Saiu feliz como um velho nordestino que consegue ver que na vida o importante é querer viver com alegria. E é ainda mais digno de admiração um velho que enxerga tudo isso sem os olhos. Sim, o nosso artista é cego, fisicamente cego. Creio que havia pessoas naquele coletivo muito mais cegas que ele, apesar de terem os olhos saudáveis...."



Eu escrevi esse texto há algum tempo. Engraçado que a mesma situação me ocorreu, dia desses. E mais engraçado ainda é que a minha percepção do fato foi muito diferente... primeiro, já não sou tão crítico assim de dias normais. Os dias que não são normais, normalmente trazem mais problemas que surpresas boas. E não são, de jeito nenhum, mais coloridos que os normais... Eu continuo achando que a música dele traz alegria, mas já consigo entender que muitas pessoas simplesmente não queiram ficar felizes, ora bolas. Também continuo acreditando que as moedas que ele pede em troca não podem de forma alguma pagar a um músico de tamanha qualidade, mas isso agora me revolta! E no sorriso dele, onde antes enxergava um exemplo, hoje enxergo muito mais conformismo. "Só a luta muda a vida", pensei. Quando será que fui mais justo? Desisti de pensar na questão antes mesmo de terminar de formulá-la...

7 comentários:

Anônimo disse...

Meu amor, hoje peguei um ônibus assim, onde todos pareciam ter acordado de mal com a vida, gosto de acreditar que um sanfoneiro alegraria o dia daquelas pessoas!Existem algumas pessoas que mesmo passando necessidade são alegres, contagiam, sabe?Ele deve ser uma dessas!Pelo menos é nisso que eu quero crer!
Adoro ler seus textos!Vc escreve maravilhosamente bem! Bjão!
Te amo!

Anônimo disse...

Apesar deu não te amar, concordo que vc escreve bem. Mas discordo do "só a luta muda a vida"... A luta muda a parte política da vida, que pode ser mudada. Há muitas esferas onde a conservação predomina, sem significar conservadorismo, termo este aplicável à política. Quanto à pobreza material, ela traz aflições, mas a resposta não necessariamente vai ser contestatória... O que mais importa não é revolucionar, mas encontrar uma forma de se sentir bem e para isso, às vezes basta uma sanfona... A realidade é dura... Nossos atos de vontade não são capazes de libertar ninguém. Ouçamos então o nosso velho sanfoneiro... Amém.

Anônimo disse...

Bom, o que sempre acontece é que ninguém quer ouvir o que você tem a falar. Apenas um olhar... Pronto! Ali esta você ao outro, só ( "TUDO" )isto define quem é quem na sociedade. Tosco não ?

Parabéns !

Anônimo disse...

Tu deve ser um outro preto safado.

Anônimo disse...

Que saudade de hitler, os pretos safados nao param de querer se achar gente.

Marcela P. disse...

Antonio,

esse anônimo anda infernizando aqui tb? É tao lamentável. Fico realmente triste ao saber da existência de pessoas assim.

Gostei muito do seu texto. bjos

Priscila disse...

Rimaci,
fez o blog mesmo né?Que lindo!Ficou massa.Vou passar a frequentar o seu tb.

E esse anônimo?A morte é pouco pra gente dessa laia.

Beijos e bom trabalho