segunda-feira, julho 10, 2006

Eficácia política X Eficácia simbólica

Os solterapolitanos já viram. Fomos brindados com algumas daquelas faixas que surgem em época de eleição: " Deputado não-sei-das-quantas deseja sorte para nossa seleção!". É engraçado como esse tipo de marketing funciona. Apesar de não saber exatamente como isso se dá lá fora, tenho uma inclinação pela idéia de que esse tipo de coisa só funciona aqui no Brasil, com nossa cultura politica personalista e até mesmo maniqueísta. Mas esse não é o ponto, nesse texto.
O que achei interessante é um paralelo, um tanto quanto grosseiro, que pode ser feito entre esse tipo de simbolísmo político, se podemos chamar assim, e a simbologia das tribos indígenas e dos xamãs. Em " Antropologia Estrutural", Levi-Strauss mostra de forma bastante interessante como funciona o mecanismo de cura xamanística. Ela é, antes de tudo, uma reestruturação dos acontecimentos empíricos dentro de um sistema simbólico socialmente convencionado entre os índios. Uma doença, ou um parto difícil, trás ao seio social fatos extraordinários, ou seja, que não podem ser explicados nem colocados em ordem senão pela explicação sobrenatural, que se constitui num sistema de símbolos, da qual o xamã é principal guardião. Os mecanismos materiais da cura, que podem parecer aos nossos olhos ocidentais um charlatanismo vagabundo, são muito mais complexos que isso. Basta dizer que o xamã crê de fato que aqueles procedimentos estimulam os espíritos e outros fatores sobrenaturais, ocasionando na cura. Contudo, a cura vem, na verdade, pelo ordenamento das acontecimentos, o qual o mito oferece ao doente. Entendo a sequência de acontecimentos previstos pelo mito, o corpo do individuo acaba trabalhando em prol da cura física, fisiológica, porque pode sentir que essa é a ordem natural das coisas, e não o fim dos tempos, uma desordem absoluta. Entraria aqui a explicação de uma noção de incosciente que deixaria o texto mais chato ainda. Basta dizer que a saída que o mito oferece frente ao caos - que é comuma nós ocidentais, na psicanálise - é a chave para a cura. A simbologia, ordenada, é eficiente, justificando o título desse pequeno devaneio.
Na politica brasileira, numa analogia já sabidamente grosseira, ocorre algo semelhante, com algumas diferenças básicas. Os problemas,ou a desordem é também empírica: o individuo não tem emprego, a rua não tem asfalto, o poste não tem luz;o politico, muito bem assessorado, oferece o mito da salvação: o homem bom, honesto, trabalhador, patriota, que vai chegar no poder e resolver todos os problemas. O homem do povo, a voz do povo frente aos "poderosos". As pessoas, fascinadas pelo mito votam, e elegem. O grande problema é que, nesse caso, apenas o mito oferecido, e a solução que ele traz à confusão psiquica, não corresponde a realização da "cura" no plano físico. O mito não resolve. Ao contrário do xamã, que provoca na doente a reação à doença e a cura, a eleição dos "homens do povo", carregada de mitologia, não acarreta no ordenamento imediato das idéias da forma que poderia resolver de fato os problemas do povo. o mito acaba personificando a luta de toda uma classe, colocando na mão de uma figura a solução de suas vidas, quando o que, na humilde opinião desse que vos fala, o que resolveria a "doença social" seria a tomada de consciência, tornar a classe mais crítica, e fazê-la perceber que apenas com junção de esforços e com a luta organizada se pode travar os objetivos contrários aos seus, fazendo com que a desordem empírica suma. De fato, aqui a desordem no plano das idéias, que quando desfeita desfaz a desordem no plano físico, não pode ser sanada apenas pelo "homem do povo", pelo mito que ele traz. O político que, sabendo disso, usa o mito apenas parar fins pessoais, não merece de nós a mesma admiração que o xamã faz por merecer. A eficácia simbólica do segundo, ainda que não lhe seja possivel compreende-la, cura. O politico é desonesto: oferece um mito inútil, ou útil apenas para si próprio, na medida em que ele alcança objetivos pessoais, o que pode ser chamado( eu, pelo menos, acho que pode...) de "eficácia política".
Até quando a "eficácia política" irá travar a luta pela "cura" para nosso povo? Até quando ela irá travar um processo que seja mais justamente comparado com a "eficácia simbólica"? Mais uma daquelas perguntas para qual não pretendo formular respostas....

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu amor, a relação que vc fez foi incrível! E falando um pouco de política,essa "eficiência política" acontece desde que eu me entendo por gente, o político promete mundos e fundos e quando o povo o elege ele simpelsmente finge que não existe, fazendo o povo de besta!
Acho que a conscientização popular nunca vai acontecer, principalmente, pq é cômoda a situação daqueles que recebem algo por seu voto, não os condeno pois, as vezes, é por necessidade!
Para mim todos os políticos são farinha do mesmo saco, mas guardo um desprezo maior por Roberto Jeferson, ele faz aquela merda e depois usa a tática do esquecimento, ou seja, joga mais merda no ventilador pra o povo esquecer o q ele fez.E agora ainda vem com toda aquela cara de pau dizendo que é um exemplo de cidadão.E o pior é q ainda vão votar nele!
Resultado, a eficiência política vai continuar a acontecer por muito tempo, o povo vai ficar na mesma situação e esta tá ficando tão ridícula que vai chegar a hora em que o melhor a fazer será votar em branco!
Te amo! Bjão!

Anônimo disse...

cura xamanística ...
sinceramente, nao acredito nestes lances!
A alusão do "xamã" ( mesmo não acreditando nestes trecos ;P ) ao político eh perfeita. Questões pessoais sempre passam por cima do "bem comum". Políticos fedem!