segunda-feira, julho 17, 2006

Sobre amigos e universos semânticos...

Amigos são a família que escolhemos ter. A frase é um clichê antigo, mas válido. Contudo, cabe acrescentar que essa escolha é sempre limitada pelo nosso pequeno universo. Na nossa sociedade pós-moderna, onde os homens correm a todo instante atrás de seus horários e atividades,invertendo a ordem minimamente inteligível das coisas,ninguém perde tempo com atividades fúteis como fazer amigos. Se podemos ao mesmo tempo estar na faculdade e faze-los, tudo bem. Se não, sobrevivemos sem eles. Desta forma, nosso universo de amizades torna-se bastante limitado. Os amigos da faculdade, os amigos do trabalho... O mundo capitalista das maravilhas consumíveis forma pessoas cada vez mais limitadas, pressas nos seus próprios mundinhos.
Refletindo sobre isso, pensei nos amigos de infância. No quanto é embaraçoso encontrá-los. É estranho demais... Algumas pessoas chegam a evitar esse tipo de encontro. O motivo é simples: depois dos cumprimentos, a única pergunta que sobra é " e ai, como você tá?" . Depois disso, o papo que sobra é inversamente proporcional à quantidade de tempo que essa pessoa deixou de fazer parte de seu "mundo". Amigos deixam de serem amigos cada vez mais rápido, nos dias de hoje. E por que será?
Sem querer afirmar, com todas as letras, que a Antropologia pode nos ajudar a refletir sobre inúmeras dessas questões intrigantes - nem muito menos confessar que ela pode acabar fundindo de vez a cuca dos que se entregarem totalmente aos seus "objetivos" -, digo que a noção de universo semântico, usada como pano de fundo por Geertz em "A Interpretação das Culturas", é muito válida nesse sentido. Geertz, interessando em entender culturas diversas da sua, supõe que, havendo dois universos semânticos, ou campos de significação do real( ou ainda simplesmente culturas) diversos, a zona de interpenetração entre eles permitiria uma compreensão, por parte do antropólogo, de alguns aspectos da cultura alheia. Essa interpretação teria como consequência um aumento da área de interpenetração entre as culturas, fazendo com que fosse possivel, a cada novo aumento, entender mais e mais aspectos de uma cultura diversa. É bem mais fácil entender se os amigos pensarem naqueles esquemas que nossos ilustres professores de matemática usavam para representar conjuntos numéricos que possuem números em comum. É como se a intersecção crescesse a cada nova interpetração antropológica.
Se ficou chato, não importa muito; o que queria era resgatar a idéia de universo semântico. É engraçado como na nossa atual sociedade os universos semânticos se subdividem e, por consequência, se mutiplicam a cada dia, a ponto de você não conseguir estabelecer um diálogo de mais de três minutos com alguém que fora seu bom amigo a pouquíssimo tempo. As pessoas estão cada vez mais enfiadas em suas atividades, nos seus horários, nos seus problemas, que acabam reduzindo ao limite extremo sua rede de amigos ( reais, orkut não vale...). É aquela história, antes tinhamos pessoas que sabiam quase nada de quase tudo; hoje, nos tempos do "especialista", temos pessoas que sabem quase tudo de quase nada. Um doutor em articulações dos dedos do pé... Me diga, caro leitor, o que você poderia conversar com um doutor em dedos dos pés?
Soluções para tal mal do mundo pós-moderno não são assim tão fáceis. Talvez um pouco de atitude "antropológica", no sentido de estar sempre querendo avançar no universo semântico dos velhos amigos, exigiria muita disciplina, além de uma coragem enorme de se empenhar numa atividade que poderia deixar qualquer um maluco...Em que cabeça cabe, tudo junto, o universo semântico daquele doutor em dedos do pé e de um cobrador de ônibus, por exemplo? Ser antropólogo é dar um passo largo em direção à loucura... Tô fora!

5 comentários:

Anônimo disse...

Realmente...é meio triste perceber que no seu "novo mundo" poucas pessoas do seu "velho mundo" permanecem. Muitas vezes acho que é pq aquelas pessoas não eram amigos verdadeiros, mas pensando bem, o que acontece é realmente isso... as pesosas vivem "novos mundo" diferentes, e só sobrevive o convívio daqueles que insistem em juntas os seus mundos. Como poucas pessoas estão dispostas a insistir, temos cada vez menos amigos.

Anônimo disse...

PARABENSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS AMIGOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

SAIBA QUE EU VOU SEMPRE INSISTRIR PRA JUNTARMOS NOSSOS NOVOS MUNDOS, VIU?!

A pizza no RIP ainda tá de pé! Quero só ver quando a gente vai ! Quero tb um pedaço do bolo, viu?

bjosssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss

Anônimo disse...

Esse texto está mto bom hein??
É mesmo mto constrangedora essa situação de encontrarmos um amigo que não vemos há tempos, nos falta assunto, fica aquele clima meio esquisito, mas pq será que acontece isso né?
Seguimos por caminhos diferentes, rumos diferentes e acabamos conhecendo novas pessoas que agora fazem parte de nossa vida, mas não esquecendo das outras, que podem até ficar um pouco escondidas, mas nunca esquecidas.
Concordo com o que Lana disse tb.
Bjs

Anônimo disse...

Amor, sem dúvida, vc escreve maravilhosamente bem!
Ler o seu texto foi incrível pois tenho pensado muito nisso nesses últimos dias!
É constrangedor encontrar uma pessoa que vc considera amiga e no momento do encontro vc percebe que agora vcs têm pouca coisa em comum.Assusta, mas é bom saber como uma pessoa querida está, vc fica feliz por saber que ela está bem! E, concordando com Gisele, elas podem estar escondidas, mas jamais esquecidas!
Bjos!Te amo!

Roberto Dantas disse...

Tenho de concordar com esta perspectiva uma vez que a mesma torna-se contínuo fato empírico em nossas vidas... Recordo-me do dia em que após alguns longos anos lhe reencontrei...(rsrssr), como tinha lhe dito reafirmo que foram sinceras as palavras...lembrava-me como alegria da epoca de infancia... e em meio a as nebulosas lembranças havia também a dúvida, o questionamento...pq não tinha mais contato....mas os anos se passaram e o cotidiano que acompanha o relógio em seu tic-tac, nos consumindo os dias, que quando nos damos conta já se passou muito tempo ... ( É verdade o Einstein estava certo, tudo é relativo...).
No entanto com tudo isso posso dizer que o tempo apenas distanciou mas não desintensificou.


Um grande abraço de um velho amigo...